PEQUENO CAPÍTULO 1

Minha geração cresceu vendo TV.

Somos filhos daquela mudança brusca de costumes: vimos surgir os desenhos animados, as apresentadoras sensualizadas, os seriados de bandidos e mocinhos, os primeiros super heróis televisionados. E sim: vivemos o boom das novelas brasileiras, produto exportação e narradora das mudanças de costumes.

Lembro-me que muito pouco estudava depois das aulas. Brincava na rua um bom tanto, mas tinha os horários específicos em que voltava pra casa correndo pra dar tempo de ver Rin tin tin na televisão em preto e branco com aquele plástico de várias cores que precursora a TV em cores.

Sempre fui meio abobado: cheguei a pensar que realmente existia um cachorro com aquelas habilidades de policial que pensava e decidia o modo de prender os bandidos. Ou então, achava que Batman e Robin moravam no quarteirão de baixo da minha rua.

Mas eu gostava mesmo era das novelas.

Confesso e não tenho porque me envergonhar, mas era noveleiro sabendo nomes dos atores e atrizes, músicas temas de cada casal e fazendo resumos fidelíssimos do capítulo anterior.

Meus irmãos, todos mais velhos e de uma geração anterior, detestavam e me criticavam a beça. Mas eu gostava e não perdia nenhum capítulo do Direito de Nascer, da Escrava Isaura, do O Casarão e por aí vai.

Na comunidade em que eu participava os reflexos da mudança de hábitos do brasileiro pobre já era sentida. O padre e as principais lideranças já faziam discursos contra a TV e diziam que seríamos influenciados maleficamente pois o aparelho que agora ocupava o centro da sala das casas dos brasileiros, queria destruir a família e acabar com a fé das pessoas.

E já se sabia o peso que essa mudança trazia para a vida do brasileiro.

Por ocasião do último capítulo da novela Vale Tudo descobrimos que o Brasil parou só pra saber quem matou Odete Roittman. E ainda que não admitam os que não gostam de TV, mas esse foi o assunto durante dias...

Num dos retiros em preparação para o Crisma, numa das palestras dadas por um dos leigos mais intrigantes que já conheci, em que criticava quem via TV e em especial novela, perguntou: O QUE AS NOVELAS PODEM TER DE BOM? E eu, ingenuamente, respondi que ela demonstrava a realidade em que vivíamos. Fui completamente detonado por ele e pelos demais que faziam a pose de não serem escravos da TV.

Mas é inegável a importância desse período para entender a mente do brasileiro. Da mesma forma que hoje as redes sociais e o acesso à informática ficou um dado concreto da realidade de qualquer brasileiro (friso a palavra qualquer pois esses dias vi na carrocinha de um catador de reciclável: ENTREM EM CONTATO COMIGO PELO WHATS APP ) naquele momento de virada da realidade brasileira a TV desempenhou papel crucial e nela, as novelas ajudaram a mudar (para o bem e para o mal) a mentalidade do brasileiro médio.

Discutir as relações humanas (até então escondidas nas casas e locais de trabalho), abrir fóruns de conversas sobre tabus e mitos (tivemos uma novela que discutia Édipo e Jocasta), permitir que as pessoas se vissem representadas em histórias contadas diariamente, trazer para a sala modas e tendências, conhecer modelos de decoração das casas e sonhar em ter determinados aparelhos apresentados nos capítulos diários (era absurdo pensar num telefone sem fio e quando vimos pela primeira vez, achávamos que era mentira). Tudo isso a novela fazia e volto a dizer: PELO BEM OU PELO MAL ELA COSTUROU A CABEÇA DO BRASILEIRO.

Muitos diziam (e ainda dizem) que isso estragou o brasileiro. Mas é bom lembrar que contar histórias é tão antigo quanto a própria humanidade e, ainda que pensem que antigamente era diferente, não era. Vejam as histórias das 1001 noites: tem traição, mentiras, invejas, tramas e tudo o mais. Até mesmo na cultura bíblica o ato de sentar-se ao redor do fogo para ouvir os antigos falando das origens do mundo é coisa bastante notória.

As novelas só fizeram amplificar essas histórias e conta-las para milhões ao mesmo tempo.

Claro, tem aí os interesses econômicos que fizeram do produto um divulgador de marcas, de ideias e de posturas que facilitaram e forçaram mudanças políticas, econômicas e culturais na vida de todos nós.

Mas o esquema é o mesmo: toda noite sentamos (ou sentávamos) para ouvir uma nova história que Sherazade (a dos contos Persas e não essa estranha do Youtube) nos conta com drama, comédia, lutas, derrotas, vitórias, medos, violência etc.

Em breve, escrevo o PEQUENO CAPÍTULO 2.

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Comentários

  1. 1o.capítulo = lido... Então, nao vi tantos desenhos como vc (rsrs), mas novelas muitas.. hj me recuso em assistí-las nem sei bem o ` porque´, mas a última foi Av Brasil..../////// Mas a tv mudou o habito de tds nós. Faz alguns anos fui numa palestra do Cortella (no Antares) e ele disse que na casa dele tiraram a N Senhora do lugar onde ela sempre esteve e colocaram a tv.....e que depois disso os costumes da casa mudaram radicalmente!!! Abraço

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  2. Muito bom esse tema que você colocou. TV: hoje tão preocupante p/ pais e educadores. Realmente tem novelas e programas de censura que devemos evitar mais nem sempre é possível que nossos filhos vejam, temos que ter bastante diálogo c/ eles pois, também tem as redes sociais temos que ser vigilantes e abertos à este tempo. E quanto aquele tempo que vivemos quantas Saudades.. só novelas..Boas.. cheguei à assistir Rin tin-tin. Rsrss!

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  3. Gostei muito do 1o .cap...Lembro-me bem da 1o tv...toda chuviscada mas mesmo assim achava lindo os desenhos ..depois melhorou um pouco,assistia filmes juvenis como esses que vc viu e outros tb...Sempre assisti novelas,principalmente as históricas...Hoje assisto só as que valem a pena.....Fico preocupada com alguns assuntos que podem influenciar de maneira prejudicial os jovens...apologia ao tráfico..Isso já deu até problema numa escola, pois os estudantes fizeram um exposição exatamente disso,drogas,armas ..enfim deu até policia.!!! A transexual que se auto-aplica qualquer hormônio,sem um controle médico..e por aí vai...

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  4. Continuação da postagem anterior:as drogas e armas acima lógico que não eram de verdade...mas acabou aparecendo drogas verdadeiras...

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