A IGREJA QUE APRENDE

Existem alguns textos dos evangelhos que lemos e meditamos na missa que, num primeiro momento podem parecer "menores" ou "sem importância". Isso porque não relatam nenhum acontecimento específico, nenhum milagre, nenhuma palavra mais assertiva de Jesus e isso faz com que a maioria os desprezem.

É bom a gente tomar cuidado.

Esses textos que funcionam como "ligação" das ações são importantes tanto quanto os outros pois na medida em que fazem a ponte para entender elementos que nem sempre estão na ribalta da cena mas sim nos bastidores.

O texto de hoje é um bom exemplo disso. Lucas parece apenas informar que Jesus caminhava por vários lugares e tinha um grupo que o seguia. Mas não é verdade. Leia com atenção Lc 8, 1- 3.

O texto abre uma série de brechas para vermos como funcionava o interior da comunidade nascente:

> Jesus andava por cidades e povoados: demonstra a missionariedade de Jesus à medida em que não se restringe a um único lugar ou a um templo específico;

> sua ação era pregar e anunciar a Boa Nova do Reino: todos merecem ouvir a boa nova e Jesus faz questão de demonstrar que leva a sério essa dimensão da missão não escolhendo a quem dizer que Deus ama, mas indo e descobrindo o quanto que aceitam e querem a mensagem;

> os doze iam com Ele: a escola do seguimento é a melhor forma de estabelecer os parâmetros da adesão; os discípulos não fazem curso a distância, mas estão junto com Ele experienciando os conflitos e as dificuldades de se anunciar;

> também algumas mulheres estavam no grupo: uma das novidades do ponto de vista sociológico do movimento de Jesus era o de dar status de seguidoras também às mulheres e, como defendem muitos teólogos, de permitir que elas tenham papéis fundamentais na organização das primeiras comunidades;

> ajudavam com os bens que possuíam: na minha opinião, aqui está a chave do entendimento do seguimento; o que faz uma pessoa ajudar um grupo ou uma entidade ou uma ideologia com seus bens? Aquelas mulheres que não sabemos o quanto tinham de dinheiro e nem com quanto ajudavam, apostavam seus bens num projeto e isso faz com que nos questionemos sobre a nossa adesão ao projeto de Jesus. Não necessariamente com dinheiro, mas como apostamos nossas vidas num propósito de fazer acontecer a boa nova de salvação.

Vejam que é um texto de ligação mas que aponta para inúmeras possibilidades de questionamento e entendimento da fé. E nós dizemos: bendita Palavra que nos anima e nos orienta.

Fiquem bem.