COMO CRIANÇAS

A versão romanceada da idade infantil é muito recente.

Até umas décadas atrás, as crianças eram vistas e aceitas apenas como um rascunho daquilo que o ser humano poderia a vir a se tornar, tanto que em muitas culturas, se dizia que entre escolher a morte de um adulto que já sabemos o que ele é e aquilo que é capaz de fazer e a de uma criança, que ninguém sabe o que será, escolha-se a morte do infante.

A publicidade descobriu o quanto amolecemos nosso coração  com a figura infantil e tão logo, pode, tratou de colocar crianças para vender coisas ou para fazer o contraponto de venda. Se prestarmos atenção nas propagandas, 80% delas passa pelo conceito infantil de se fazer o consumo porque isso agradaria ou seria bom para "meus filhos".

Essa visão permanecerá até quando houver novo entendimento sobre qual idade é a mais rentável. Por enquanto é a que temos.

Mas no tempo de Jesus isso não era tão simples e nem tão aceitável.

As crianças nem contadas eram porque não eram sujeitos e como tal, não podiam nada a não ser obedecer seus pais.

Jesus revoluciona essa mentalidade ao dizer mais de uma vez que o verdadeiro discípulo deve ser como criança. E isso, de algum modo, mexe com nossas fantasias.

Alguns dizem que é pelo fato das crianças serem puras. Será?

Outros pela possível inocência dos rebentos. Hum, me explique...

Outros ainda pela vulnerabilidade das mesmas. Sei...

O que me parece muito mais plausível é o fato simples e objetivo de que faziam parte do grupo dos pequenos (no evangelho de hoje Jesus faz essa relação por 4 vezes) e portanto, eram os excluídos da sociedade.

Jesus compara o discípulo como uma criança porque ele deve saber que está no grupo dos que foram deixados de lado e trocados por algum tipo de benefício ou benesse.

Esse processo de coisificação nos tira a dignidade porque, num tempo de consumo exacerbado, não consumir ou não ter como escolher por si mesmo como consumir (lembrem-se que estou falando do tempo de Jesus- nos dias de hoje tem que criança que manda nos pais) coloca o discípulo como rejeitado e portanto, como membro de um grupo que não tem valor.

Quem se faz pequeno como essa criança, diz o mestre, entende que a vida é dureza porque sabe que está no grupo dos que foram tirados do título de beneméritos e portanto, busca sentido não em caoisas ou títulos mas em Deus.

O verdadeiro discípulo busca entender essa dinâmica e conhecer esse caminho para não se perder e nem se deixar abater.

O Pai, que é o pastor que sai atrás de quem se perde, não deseja que ninguém se perca não por causa do pecado inerente à nossa condição humana, mas se perca por não ser valorizado e respeitado na sua dignidade.

Fiquem bem.

Comentários

  1. Bom dia! Ainda penso que as crianças sao puras, inocentes e cheias de "querer"------ quem as estragam sao seus pais, esqueceram do LIMITE. Escrevo que há pureza pela facilidade que elas tem em perdoar e amar. Qdo já apresenta algum rancor, certamente tem um 'palpite do adulto'.... //// A midia explora a mente infantil - tem adultos fazendo seus filhos de miniaturas. ..e isso é bem desastroso.Abraço Pe Luís

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  2. Sempre aprendendo..que aprofundamento. É preciso ter um coração de criança para estarmos no grupo que nos concide da graça do Reino.

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  3. Boa noite, Padre Luiz ! Faço parte de uma geração, de crianças... que não tinham nada. Crianças que não tinham direito algum. Só obrigações. Fazer tudo que o pai, mãe, tios, qualquer adulto da família mandava, e nós crianças, só obedecer, se não... apanhá: de cinta, chinelo, etc. Mas não acho que ficamos com problemas psicológicos, traumas, distúrbios, etc, etc. Mas esse não é o que agora importa. Entendo muito bem oque foi ser criança nos tempos de Jesus, pois na minha infância (tenho 72 anos) éramos muito felizes com nossos pais e apesar de tudo, tínhamos a certeza de sermos amados.

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  4. Minha infância foi muito feliz, muito mesmo. Mas só podíamos ser criança: obedecer, brincar, quando, não tínhamos obrigações: deveres escolares, ajudar nos serviços domésticos, e por aí vai.E brincar...muito, com os amigos, vizinhos principalmente. Que sábia reflexão !!!

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  5. Boa noite padre, bela homilia! Acredito que devemos nos colocar a serviço com humildade, simplicidade e ir ao encontro desses "pequeninos "que qual ovelha perdida anda longe do rebanho.Abraços! Fique bem também!

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  6. Asa crianças são muito espertas,...bem mais do que imaginamos, por isso sempre devemos ficar com um pé atrás!!!

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