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Mostrando postagens de junho, 2018

JAMAIS VOS CONHECI

Jamais vos conheci... Poucas frases provocam tanto arrepio e mal estar num cristão temente a Deus do que essa: Jamais vos conheci. Vivemos nossa vida de fé sempre querendo e tentando amealhar um saldo positivo para um dia, ao chegarmos à casa do Pai, descobrirmos que fomos amigos e parceiros de caminhada e, nada mais querido do que ouvir VINDE BENDITOS DO MEU PAI... Mas parece que essa busca por reconhecimento e salvação da mesma forma que preocupa as pessoas de fé, geram também um certo amortecimento em quase tudo que fazem com relação à sua vivência cristã. Explico: No texto que meditamos nesta quinta feira (Mt 7, 21- 29) Jesus está ensinando seus discípulos e discípulas a descontruir uma mentalidade de fé que gerava um comodismo nas pessoas: bastava que se usasse o nome de Deus e isso já seria a prova de que a pessoa de fato pensa, sente, fala e age em nome de Deus. Parece que não é tão simples assim... Não basta dizer Senhor Senhor... Não basta expulsa

O MELHOR DE NÓS

Alguns ditos de Jesus são considerados enigmáticos. Para os estudiosos tanto podem ser uma orientação específica sobre alguma circunstância que a comunidade vivia, como podem um alerta sobre os perigos que rondavam o início da missão dos primeiros cristãos. Não sei se isso importa de fato. Mas é bom estar atento para que nossa leitura e interpretação não corra riscos de ser desencarnada da vida e da realidade. Hoje Jesus pede para não dar aos cães o que é santo e nem jogar pérolas aos porcos... Precisamos nos perguntar antes de mais nada: o que estava acontecendo na comunidade que poderia ter motivado esse dito? Em primeiro lugar tinha o confronto próprio da missão. Muitos rejeitavam e odiavam a ação dos cristãos chamando-os de traidores do povo pois haviam deixado sua religião mãe para seguir um pregador qualquer. Caso isso tenha motivado a fala de Jesus, poderíamos pensar: não tente convencer o outro de que você está certo ao buscar Deus por um outro caminho. De

NÃO JULGUEIS

Quem participou da celebração DA NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA deve ter prestado atenção que no final do Evangelho proclamado se dizia que a língua de Zacarias se destravou e ele, para espanto de todos, pode voltar a falar. Nas missas em que presidi fiquei com uma sensação de que o silêncio de Zacarias era providencial. Ficar quieto ou aquietar o coração ajuda a gente a tomar consciência do que acontece conosco e ao nosso redor. Num tempo onde os "barulhos externos e internos" são grandes demais, esse silenciar pode ajudar a gente a se recompor. Hoje pela manhã ao meditar na oração o texto de Mt 7, 1- 5, me deparei com uma espécie de continuidade desse silenciar-se... Jesus está chamando a atenção para o poder do julgamento que muitas vezes toma conta de nós e nos coloca numa posição de hipocrisia. Não julgueis e não sereis julgados, diz o Senhor. O julgamento é sempre a ânsia arvorada que o indivíduo e ou grupo tem para, ao condenar, dizer-se melhor. C

OLHEMOS

Então o conselho de Jesus é: NÃO VOS PREOCUPEIS COM O DIA DE AMANHÃ... Senhor, com todo o respeito que temos pela sua Palavra e pelo amor que lhe consagramos, preciso dizer: NÃO É FÁCIL... Sei que é bastante inspirador e cheio de beleza a ideia de não se preocupar com o que vestir e o que comer. Mas sabe, no capitalismo em que vivemos, fica praticamente impossível sentir-se livre dessas preocupações. Fico feliz quando o Senhor nos convida a contemplar os pássaros que não semeiam e nem colhem, mas sempre tem o que comer... Talvez no tempo em que essa Palavra foi dita ficaria mais fácil as pessoas sentirem-se integradas à natureza e à responsabilidade de cuidar uns dos outros. Mas hoje, se não conseguimos plantar e colher, precisamos ter com o que pagar e para ter esse bendito dinheiro, as nossas preocupações aumentam e só crescem... Que lindo os lírios do campo... Não fiam e ainda assim se vestem melhor que Salomão. Mas sabe, tudo ficou tão caro em nossos dias que

ENSINA-NOS DE NOVO

Não nos deixávamos falar o Teu nome. Santidade do Sagrado, impedidos de dizer o quanto o amamos. Veio teu Filho e com carinho e ternura nos ensinou a dizer PAI NOSSO. Pediu-nos para quando rezarmos que digamos palavras poucas mas com profundidade: Pai nosso que estai nos céus... Pão nosso de cada dia dai-nos hoje... Palavras que alimentam o corpo e a alma porque ao mesmo tempo que nos sentimos filhos/as nos sentimos chamados a ter o básico para a vida valer à pena. Rezamos com alegria quando na celebração somos convidados a levantar as mãos para o céu e dizemos com o coração cheio de esperança que o Teu reino pode vir a nós e nos livrar-nos do mal. Mas nosso barro é de posse. Nossa constituição é de controle. E passados anos desse aprendizado doce que Jesus nos deu, nos apropriamos do nome de Deus de novo e agora não mais usamos uma palavra impossível de se pronunciar mas sim, dizemos que Ele é só meu Pai. Enchemos a boca para dizer que Deus é meu

JÁ RECEBERAM A SUA RECOMPENSA

No Evangelho do 11 Domingo Comum, ouvimos Marcos contar que Jesus relatou duas parábolas que ajudariam seus ouvintes a entender e a perceber o que é o Reino de Deus. Já no final da perícope o evangelista diz que para os discípulos Jesus explicava tudo. Na verdade, a ideia é destacar as duas metodologias que Jesus usava para ensinar as coisas do Reino: para o povo mais simples dizia parábolas que facilitavam o entendimento da nova teologia que Jesus inaugurava. Mas para os discípulos precisava dizer coisas mais profundas e ajuda-los a compreender a extensão da boa nova que chegava e deveria gerar em todos um compromisso eficaz com o projeto de Jesus. Daí os dois movimentos: explicar e aprofundar... Por isso que nessa semana os evangelhos que estamos meditando está nesse contexto e com essa perspectiva: AJUDAR A COMUNIDADE DOS DISCÍPULOS DE JESUS (ONTEM E HOJE) A CONHECER A DINÂMICA DO REINO. Jesus hoje questiona diretamente a prática da comunidade que, muitas vezes emb

BENDITA PALAVRA

Ontem fui bombardeado por algumas perguntas dos jovens que, preocupados com a sua condição de pessoas comprometidas com a busca da salvação, queriam saber sobre a condição de Lúcifer e dos malvados que rompem com a graça e portanto, em tese, deveriam ser condenados à perdição eterna. Confesso que temo em responder perguntas assim que já se apresentam viciadas porque de algum modo, quando elas são feitas, existe quase uma lógica dedutiva que já espera chegar numa resposta sabida anteriormente. E eu sou péssimo com esse tipo de argumentação onde tudo o que se fala é pra confirmar o que já se sabe. Prefiro sempre o caminho da dúvida, do questionamento, da busca de sentido e da preocupação em ampliar meu entendimento ainda que se chegue à conclusão que eu já sabia, mas o caminho da peregrinação intelectual é fundamental para mim e para minha fé. Por várias vezes tentei responder questionando...  Mas confesso que senti que não consegui ser claro o suficiente para despertar

NOVIDADE

Hoje dia 18 de junho o clima amanheceu bem ameno aqui em Barcelos. Diria que uns 25 graus... e bem nublado no céu. Cada vez que encontro alguém e digo que está um belo dia, logo recebo a resposta atravessada: dia bonito tem que estar calor (mais quente?) e com bastante sol... Mas hoje é um dia importante para nós da Igreja católica aqui dessa região. Às 19h estaremos estreando um programa no mínimo ousado: CURSO BÍBLICO PELA RÁDIO RIO NEGRO. A idéia me surgiu quando percebi que seria humanamente impossível fazer qualquer encontro de formação num encontro que tivesse um lugar físico. As distâncias das comunidades e os desafios de locomoção são imensos e, provavelmente, se desse certo atingiria apenas um pequeno grupo mais próximo da Igreja. Com o acesso ao rádio imagino que tudo será mais fácil e tornará possível um encontro semanal onde as pessoas, da sua residência ou então aonde estiverem poderão ouvir e acompanhar a formação bíblica a partir do seu radinho ou do fone

ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO.

Dai-me de novo um Espírito decidido... Assim se expressa o salmista na sua oração para pedir perdão e a chance de recomeçar. Assim se expressa meu coração no dia em que celebro meu aniversário de ordenação. Depois de 21 anos de ministério e de muitas histórias vividas e compartilhadas eis que estou de novo diante de Deus para agradecer o dom que me deste e a oportunidade de servir como ministro da sua Igreja. O ministério presbiteral é um grande dom de amor que Deus primeiro manifesta por seu povo, dando pastores que são capazes de caminhar junto ao povo animando, orientando e oferecendo o dom da mesa sacramental. Mas é também, se não com todos ao menos comigo, um grande dom de amor que, apesar das minhas imperfeições e descuidos, me escolhe e me chama para o serviço. Dia desses enquanto eu rezava me passou pela cabeça alguns comentários de pessoas que me viram enquanto jovem na comunidade onde eu participava, depois como seminarista e como padre jovem. Quase todo

DE NOVO, EU VOS DIGO

O tema da sexualidade sempre foi espinhoso na doutrina e ensinamento da Igreja. Muitos a acusam até de ser responsável por termos vivido épocas de repressão dos desejos e da criação de inúmeros dramas pessoais e sociais sobre o tema. Se há verdade nisso, precisamos explorar mais e melhor o tema. O que se sabe é que a Igreja num determinado momento da história passou a ser gestora de toda a vida social humana e com isso, se arvorou a estipular regras e ditar normas de comportamento. Muitos vão dizer que isso é o certo. Eu pessoalmente acho que o objetivo da ação da Igreja é dar critérios para as pessoas serem capazes de escolher o que de fato alimenta a sua existência, até porque, em matéria de sexualidade, na intimidade do quarto e dos corpos, muito pouco se pode controlar... Mas independente disso (que seria uma outra discussão bem boa) o evangelho de hoje (Mt 5, 27- 32) trata de nos ajudar a perceber as palavras de jesus num contexto ainda mais repressor e cheio

EU PORÉM VOS DIGO

A proposta de Jesus para o seu seguimento convenhamos não é tão difícil. Na verdade, beira o óbvio: amar o próximo, amar a Deus e viver bem com o mundo ao seu redor e as pessoas do caminho... Mas se admitimos que é simples, somos obrigados a aprofundar a pergunta e responder: porque então resistimos tanto em po-la em prática? Acontece algo contraditório na vivência de nossa fé. Adoramos chamar Jesus de nosso único Salvador. E Ele o é. Mas resistimos ao extremo executar suas orientações e por em prática aquilo que nos pede. Diante da rejeição, agimos com cinismo: AH MAS ISSO É IMPOSSÍVEL. Ou: SÓ CONSEGUE FAZER ISSO OS SANTOS E PERFEITOS. Ou ainda: MAS ESSA MENSAGEM ESTÁ ULTRAPASSADA. Sim, não recusamos mas dizemos que Jesus ficou obsoleto e, na ânsia de encontrar um Jesus mais moderno e de acordo com meus critérios de julgamento, saio à procura de pregações que respondam de imediato aquilo que penso e desejo que Deus seja... Para os estudiosos de sociologia, talvez

VAMOS ACORDAR O SOL

Dia 12 de junho de 2018... Meu dia começou pela madrugada quando ainda muitos dormiam e eu, comecei a juntar as coisas necessárias para uma viagem pelo rio, pelo grande Negro. Pelas 3h já estava tratando de pegar os corotes para combustível, preparando material de visita e ajeitando tudo na voadeira que sairia ali pelas 4h30. O destino era as comunidades de Moura, Carvoeiro e Cauburis. Todas rio abaixo. Confesso que nessas viagens o máximo que consigo fazer no nível da preparação é só isso mesmo porque o resto, o que de fato conta para uma viagem segura e tranquila, quem cuida é o prático, o responsável por pilotar a voadeira e o conhecedor das calhas do rio que nos engana constantemente. Não sou de acordar tarde normalmente e nem tenho dificuldades em manter-me acordado depois que acordo. Mas nesse dia tinha dormido mal e estava muito cansado. Durante a viagem, mais de uma vez me peguei "pescando". E olha que cochilar sentado enquanto se navega e em mei

REFLEXÃO DO 10 DOMINGO COMUM

“Os mestres da lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que Ele estava possuído por Belzebu…” A reflexão bíblica é elaborada por Adroaldo Palaoro , sacerdote jesuíta, comentando o evangelho do 10° Domingo do Tempo comum - Ciclo B (10/06/2018) que corresponde ao texto bíblico de Marcos 3, 20-35 . Desconcertante : exatamente assim foi Jesus; e sabemos disso através dos evangelhos. Jesus foi um homem que viveu e falou de tal maneira que se revelou desconcertante para aqueles que o conheceram e se aproximaram dele. Jesus desconcertou sua família que o considerava louco; desconcertou àqueles que o acusavam de “blasfemo”, de “Belzebu”, de “escandaloso”. Jesus desconcertou todo mundo, até o final de sua vida, que foi o mais desconcertante de tudo. Desconcertou porque assumiu uma postura diferente frente ao contexto social, religioso e político no qual viveu. Jesus não se “encaixou” em nenhum grupo e deixou transparecer sua liberdade frente às leis, às tradições de seu povo, ao

CORAÇÃO DE MÃE

Oração que brota do coração ao refletir Lc 2, 41- 51 Maria, como muitas mães, andava procurando fazer aquilo que alimentava seu coração de fé e gastava seu tempo e suas economias na prática dos preceitos do seu tempo. Saiu de Nazaré com seu marido e seu filho e foi para a capital procurando obedecer o preceito de estar no Templo por ocasião da Páscoa. Não tinham muito. Aliás, como todos daquela comunidade, traziam alimento para o caminho e o coração cheio de esperança e amor para estar na presença de Deus com seus irmãos e irmãs. Horas. Dias. Montanhas e desertos todos caminhavam e riam mesmo que as condições lhes fossem desfavoráveis. Sim, os pobres sabem rir das próprias dificuldades e com isso, sentem-se irmanados ao partilhar o pouco que têm. Cumprido o preceito, felizes por poderem estar em sintonia com sua fé, voltavam, cansados e muitas vezes mais pobres porque suas economias ficavam nas festas do templo. Mas com certeza, realizados e mais ric

COERÊNCIA E COMPROMISSO

Com atraso, devido às chuvas imensas desse fim de inverno amazônico... Nada é mais eficaz contra a maldade alheia que nos quer pegar em alguma contradição do que a verdade dita com coração sincero e consciência livre. A coerência daquilo que pensamos e o modo como agimos traz serenidade e nos ajuda a ganhar força moral e eu diria, até mesmo força intelectual pois agimos segundo aquilo que cremos e cremos segundo a prática que fazemos. Nos ambientes onde o interesse básico é a luta pelo poder, pelo controle e pela cooptação de pessoas e ideias para se garantir no auge dos interesses isso é muito mais nocivo ainda. E não pensem que me refiro apenas e tão somente aos meios políticos e econômicos. Quantas vezes nas conversas religiosas e nas preocupações dos que creem essa força paralisante nos deixa prostrados diante da armadilha da incoerência... Jesus incomodava a muitos no seu tempo. Hoje, seu nome e sua pessoa foram apaziguados e tornados membros da luta pelo p