DE NOVO, EU VOS DIGO

O tema da sexualidade sempre foi espinhoso na doutrina e ensinamento da Igreja.

Muitos a acusam até de ser responsável por termos vivido épocas de repressão dos desejos e da criação de inúmeros dramas pessoais e sociais sobre o tema.

Se há verdade nisso, precisamos explorar mais e melhor o tema. O que se sabe é que a Igreja num determinado momento da história passou a ser gestora de toda a vida social humana e com isso, se arvorou a estipular regras e ditar normas de comportamento.

Muitos vão dizer que isso é o certo.

Eu pessoalmente acho que o objetivo da ação da Igreja é dar critérios para as pessoas serem capazes de escolher o que de fato alimenta a sua existência, até porque, em matéria de sexualidade, na intimidade do quarto e dos corpos, muito pouco se pode controlar...

Mas independente disso (que seria uma outra discussão bem boa) o evangelho de hoje (Mt 5, 27- 32) trata de nos ajudar a perceber as palavras de jesus num contexto ainda mais repressor e cheio de mitologias.

Para o judeu naquele momento a sexualidade dizia respeito ao direito do homem e, todas as questões derivativas desse assunto tinham por critério favorecer a condição e o status quo masculino. Tanto é verdade que o divórcio era o homem quem pedia e despedia sua mulher...

Jesus está inserido nesse contexto e sabe que precisa dar pistas para uma BOA NOVA também nessa área. E é aí que se entende a discussão sobre o adultério, o divórcio, sobre o cobiçar e sobre a situação da mulher.

Adultério: quem olhar para uma mulher com desejo de possui-la já cometeu adultério... Parece rígido demais né? Mas vejam que é a mulher novamente o "objeto" da indicação porque a lei dizia que não se pode cobiçar a mulher do próximo mas, os homens se sentiam à vontade para agir dessa forma e não se considerarem agindo mal. Jesus demonstra que a cobiça não está em olhar e admirar. Mas em possuir uma vez que ofendia a dignidade do ser humano feminino ser visto e tido como objeto de desejo puro e simples...

Daí se decorre um discurso pesado: arrancar olhos e mãos que por ventura sejam causa de pecado.

Jesus falava disso como um ato físico?

Provavelmente não. Mas o que queria demonstrar é que nosso corpo é um todo e um todo é o conjunto da nossa existência (corpo, alma, mente, coração). Não se trata de agir somente pela força do corpo ou do desejo, mas também no nosso todo pode morar sentimentos não tão bons e que geram em nós desejo de possuir... coisas e pessoas.

O divórcio era uma garantia do homem e dos seus caprichos. Bastava que ele desejasse outra mulher que ele alegaria algo contra a mulher atual e isso já seria motivo para dar-lhe a certidão de divórcio.

E a mulher?

Bom era simples: tida como uma perdida, ficava à mercê do desejo e da cobiça de outros homens que, sabendo do seu sofrimento e humilhação, obrigava-as a manter relações sem nenhum compromisso.

Elas eram (e continuam em muitos casos) sendo as grandes vítimas do mal do coração masculino que não só se sente no direito de ter quem quiser, mas também não assume nenhum compromisso nem com as mulheres nem com os filhos gerados e abandonados sem nunca saberem quem são os pais...

Jesus está dando uma orientação profunda que, naquele momento, significava uma demonstração de cuidado e proteção às mulheres e uma forma de disciplinar a responsabilidade do homens com suas famílias e com seus filhos.

Claro que muita gente lê esse texto ainda procurando colocar pesos nas costas de quem sofre essa realidade. Acusam, apontam e denunciam sem dó. Mas para esses Jesus mesmo já lhes deu uma resposta: COLOCAM PESO MAS SE RECUSAM A AJUDAR A CARREGAR.

Quem tem ouvido que ouça...