NÃO JULGUEIS

Quem participou da celebração DA NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA deve ter prestado atenção que no final do Evangelho proclamado se dizia que a língua de Zacarias se destravou e ele, para espanto de todos, pode voltar a falar.

Nas missas em que presidi fiquei com uma sensação de que o silêncio de Zacarias era providencial. Ficar quieto ou aquietar o coração ajuda a gente a tomar consciência do que acontece conosco e ao nosso redor. Num tempo onde os "barulhos externos e internos" são grandes demais, esse silenciar pode ajudar a gente a se recompor.

Hoje pela manhã ao meditar na oração o texto de Mt 7, 1- 5, me deparei com uma espécie de continuidade desse silenciar-se...

Jesus está chamando a atenção para o poder do julgamento que muitas vezes toma conta de nós e nos coloca numa posição de hipocrisia.

Não julgueis e não sereis julgados, diz o Senhor.

O julgamento é sempre a ânsia arvorada que o indivíduo e ou grupo tem para, ao condenar, dizer-se melhor. Com esse processo tão rotineiro na vida do ser humano se estabelece uma dinâmica estranha ao Reino: um grupo se sente melhor e portanto, mais santo e amado por Deus que outros.

Sim eu sei que existem motivos explícitos e implícitos para que se estabeleça um julgamento...

Podemos argumentar que as pessoas agem sem preocupação de cumprir a vontade de Deus e ou com o desejo de fazerem o que quiserem e portanto, devem ter seus erros apontados.

Jesus também sabia disso.

E aqui talvez esteja o ponto de apoio para nossa reflexão: porque mesmo sabendo que há motivos para o julgamento, Ele nos pede para não faze-lo?

Porque somos do mesmo barro e, mesmo que não cometamos coisas que julgamos graves (e quem determina o que é grave ou não?) só o fato de julgar o outro e determinar que ele não merece o reconhecimento da graça de Deus, já significa que estamos agindo com os mesmo instintos que qualquer outro pecador.

A hipocrisia nasce justamente disso: olhamos o erro do outro (um cisco no olho diz Jesus) e deixamos uma trave tomar conta do nosso olhar.

Voltando a Zacarias podemos pensar no seu silêncio fértil.

Não foi ficar quieto como um castigo ou uma punição.

Mas sim, de contemplar o que acontecia ao seu redor com a graça de Deus permitindo que ele e Isabel agora na velhice tivessem a alegria de gerar um filho e viver a reconciliação consigo mesmo e com o mundo ao redor.

Esse silêncio poderia nos poupar de cometer a indelicadeza do julgamento puro e simples. E poderia nos ajudar a saber que perfeito é o Pai e nós, somos convidados a imita-lo com a grandeza da paciência, da justiça e do perdão.

Fiquem bem.

Comentários

  1. Que sabedoria, padre !!! Não foi essa mensagem que nos passaram nessa homilia de ontem !!!
    Que Deus maravilhoso que nós temos.... Obrigada.

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  2. Linda homilia padre. Nao julgar e silenciar; talvez duas das tarefas mais difíceis para o ser humano. Que Deus nos ajude a viver na sinceridade e na verdade ! Boa noite! Abraço!

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  3. Suas reflexões são iluminadas!!1 Sinto uma paz com a convicção que temos um Deus que nos ama, guia... Pai, criador de tudo e de todos, muito obrigada por tudo e por cada coisa.

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  4. Suas reflexões são sempre profundas e bem vindas!!!
    O silêncio nos faz ver em que direção estamos indo...e se devemos mudar o leme ......
    O julgamento.na maioria das. vezes é cruel.!!!
    Que Deus nos dê clareza.e generosidade..no olhar, no pensamento,.e na alma!!!
    Abraço.

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  5. Boa tarde Padre... voltei e cai direto nessa reflexão que me representa. Estive silenciando como Zacarias... dei uma pausa geral externa pra reorganizar tudo, por fora e por dentro. E foi fértil também... tantas coisas pra te contar... e tanto pra saber de você desses dias também... Vou tentar me atualizar por aqui e em breve te escreverei sobre as minhas novidades. A vida é louca mas é boa. E a proposito da reflexão... espero que não me julgue também.
    Obrigada por estar mesmo quando não estou. Abraço e saudade.

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