ANIVERSÁRIO DE ORDENAÇÃO.

Dai-me de novo um Espírito decidido...

Assim se expressa o salmista na sua oração para pedir perdão e a chance de recomeçar.

Assim se expressa meu coração no dia em que celebro meu aniversário de ordenação.

Depois de 21 anos de ministério e de muitas histórias vividas e compartilhadas eis que estou de novo diante de Deus para agradecer o dom que me deste e a oportunidade de servir como ministro da sua Igreja.

O ministério presbiteral é um grande dom de amor que Deus primeiro manifesta por seu povo, dando pastores que são capazes de caminhar junto ao povo animando, orientando e oferecendo o dom da mesa sacramental. Mas é também, se não com todos ao menos comigo, um grande dom de amor que, apesar das minhas imperfeições e descuidos, me escolhe e me chama para o serviço.

Dia desses enquanto eu rezava me passou pela cabeça alguns comentários de pessoas que me viram enquanto jovem na comunidade onde eu participava, depois como seminarista e como padre jovem. Quase todos diziam a mesma coisa: não pensávamos que você seria capaz de abrir tanto ao serviço como você tem feito.(esse comentário estava diretamente relacionado ao tema da missão).

E claro, isso me causava certo desconforto porque se não conseguia demonstrar meu amor e entrega a Jesus e sua Palavra, dentro de mim eu tinha muita certeza de que era isso que eu fazia e que era o que eu saberia fazer como ministro.

Talvez eu nunca consegui demonstrar dado os meus limites e imperfeições, alguns até dizem, ao orgulho exacerbado... Não importa, talvez não consiga demonstrar o que sinto dentro de mim com relação a esse assunto.

Mas em mim existem certas pontos tão claros e definidos que nem sempre dou conta de agir segundo essa luz.

O que sei é que me sinto realizado como presbítero. 

Realizado não como quem ocupa um lugar e portanto se sente recompensado pelo que faz.

Me sinto feliz em poder estar com as pessoas, ouvi-las, guardar suas dores, iluminar suas angústias, pedir pela calma, dizer o que penso sem forçar a nada.

Me sinto feliz quando estou na porta de uma comunidade esperando o povo chegar para a celebração.

Me sinto feliz quando posso brincar e dizer coisas com liberdade sem cerceamento ou mesmo sem causar desconforto.

Me sinto feliz quando vejo crianças dando demonstrações de que entende o gesto de cuidado e atenção.

Me sinto feliz quando as comunidades se organizam e lutam para conquistar seus objetivos e eu, lá no meio, posso dizer obrigado.

Me sinto feliz quando não deixo minhas dores se porem na frente do meu serviço e mesmo angustiado e triste, tento ir além.

Me sinto feliz quando sinto que as pessoas começam a buscar conhecer a Palavra a partir daquilo que eu tenha dito numa homilia.

Me sinto feliz quando vou indo sem me prender ao retorno financeiro ou mesmo de cargos.

Me sinto feliz em poder animar e fortalecer a vida das pessoas a partir do meu compromisso com Deus e seu Reino.

O resto (sim as dores, tristezas, dificuldades, desânimos, medos, abandonos, solidão, julgamentos, incompreensões, etc) ficam na rabeira do meu serviço. Estão ali, incomodam sim, mas não ditam nem meu andar e nem meu cantar.

Por isso, Senhor da vida e Deus de toda consolação, dai-me de novo um espírito decidido...

Fico bem.