PORQUE NÃO MOVEMOS AS MONTANHAS?

Sempre que leio um texto, seja ele qual for, fico intrigado com aquilo que o autor não fala sobre a história ou sobre as personagens. Sempre acho que a verdade história está naquilo que não foi contado explicitamente.

Com os textos dos Evangelhos não é diferente. Leio e fico me perguntando sobre o que não foi falado por distração, opção ou vontade própria do autor.

No Evangelho desse sábado ( Mt 17, 14- 20) isso é bastante claro.

A cena é típica: um homem se ajoelha e solicita que Jesus faça a cura do seu filho que, sendo epilético, está sempre gerando preocupação pois põe em risco sua vida. Ele acrescenta: já levei aos seus discípulos e eles nada puderam fazer.

Jesus fica bravo e imediatamente ameaça aquilo que estava fazendo mal ao garoto.

Os próprios discípulos ficam intrigados com o fato de não conseguirem fazer o bem para o menino... Perguntam o porque e recebem uma resposta estranha: PORQUE VOCSSA FÉ É DEMASIADA PEQUENA. PORÉM SE VÓS TIVERDES FÉ DO TAMANHO DE UMA SEMENTE DE MOSTARDA, DIREIS A ESTA MONTANHA: SAIA DAQUI E VÁ PRA LÁ. E NADA SERÁ IMPOSSÍVEL.

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Ou seja: eles têm fé pequena, mas segundo o próprio Jesus tendo uma fé minúscula do tamanho de uma semente de mostarda tudo será possível. E porque nesse caso não foi???

É aqui que entram meus interesses.

Porque está claro que a fé foi pequena e ainda assim não conseguiram fazer o que tinham que fazer. O que aconteceu que o evangelista não contou?

Caso essa fosse uma consulta na grande maioria dos consultórios médicos de nosso tempo, a resposta seria: PORQUE O DOENTE NÃO FEZ O TRATAMENTO QUE PRESCREVI... Muita gente procura escamotear seu fracasso dizendo que o problema está no outro, sem nunca assumir suas próprias limitações no entendimento da doença ou necessidade do paciente ou no limite do próprio tratamento.

Por ventura, estivéssemos num culto religioso (católico ou não) se diria que o problema também está no fiel que não teve fé suficiente para se curar ou então, que faltou pagar algumas das taxas que agradam a deus (com minúscula, porque esse deus é mercantil demais).

Ou se estivéssemos numa conversa de comadre sentada na calçada da casa a leitura seria: porque fulano não mereceu e foi castigado por algum pecado cometido.

Eu já leio de outra forma...

Os discípulos tinham sim fé pequena e isso bastaria para fazer coisas extraordinárias. Mas o problema é quando menor ou maior o tamanho da fé as coisas são feitas por mera burocracia. Faz as coisas porque se tem que fazer, sem sentido, sem entrega, sem paixão, sem profundidade.

Talvez esse seja inclusive um dos elementos que poderiam explicar o alcance limitado da nossa fé: temos uma fé burocrática que faz apenas aquilo que é previsto, sem nenhuma paixão. Se é pra ir à missa vou naquela que é mais rápida ou naquela que não me questiona. Se é pra tomar consciência da minha limitação faço sem nenhuma verdade. Se é pra fazer o bem, faço somente pra aqueles que me interessam...

Essa burocratização da fé é um impedimento para que consigamos fazer montanhas se moverem.

E sabe quem ganha com essas atitudes limitadas e limitadoras? Quem se outorga a falar em nosso nome. Ministros religiosos de todos os credos e cultos encenam uma fé ardente para interpelar em nosso nome, pois terceirizamos pra eles o que cada um tem como dom de fazer.

A fé é para cada um e todos e os conselhos de Jesus também: PODE SER MINÚSCULA ELA TERA FORÇA PARA MOVER MONTANHAS.

Mas a burocracia...

Fiquem bem.

Comentários

  1. Esse Evangelho me deixa com a incômoda sensação de que não tenho fé. Ao dizer que, se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda moveriamos uma montanha, penso que Ele quis nos dizer que não há medida para Fé: ou se tem, ou não se tem.

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