O CASAMENTO EM SEUS EXTREMOS

Meditar o texto do Evangelho nesta sexta feira é entrar num espinheiro.

O tema do matrimônio é sempre difícil de se discutir e, em nossos dias, tudo ganha extremos absurdos onde o bom senso quase nunca é convidado para as bodas.

De um lado, os defensores ferrenhos dos laços matrimoniais como um carimbo que os casados têm no seu passaporte.

Para estes o casamento é tão somente um contrato inquebrantável onde o que interessa é o vínculo e nada mais.

Para estes, a idealidade das coisas se sobrepõe à dureza da realidade e julgam a todos e tudo pelos olhos do peso da lei.

Do outro lado, em extremo também, encontram-se os que fazem do casamento uma festa oca, sem conteúdo, sem sentido e sem sentimento.

Interessa a esses as fotos postadas, os comentários recebidos, as cifras gastas e a felicidade momentânea.

Neste extremo, querem apenas curtir e a curtida tem prazo de validade: basta que já não seja mais do meu sabor, rompem-se as promessas e nada permanece, a não ser a busca frenética por uma nova onda de felicidade fabricada pelos flashs da moda.

Nesse meio de campo, ficam os que lutam para manter suas famílias íntegras, seus valores preservados, sua disposição de fazer dar certo, de criar os filhos e de construir um caminho para a felicidade em meio às pedras...

O problema se localiza num aspecto que nem sempre valorizamos: CONTRATO e AFETO.

Como nossa visão do sacramento passa pelo olhos medievais onde a mulher, coisificada e comprada pelos maridos, e tendo como foco a geração da prole mais limpa e digna possível, tudo se resumia a interesses.

Mas casamento (ao menos o cristão) passa por outros itens que precisam ser postos igualitariamente na mesa de discussão: escolha, liberdade, responsabilidade, compromisso, desejo...

Não se pode querer julgar o matrimônio como tema antiquado onde os nubentes eram destinados um ao outro e com o sim, dava-se também o assentimento para suportar tudo como uma forma de prova de fogo onde ESCOLHER não pode, ter LIBERDADE é pecado, ser RESPONSÁVEL é para um dos lados apenas, sentir-se COMPROMETIDO é de acordo com meus interesses e DESEJO nunca é necessário...

Um homem deixará sua casa por escolher sua mulher e com ela formará uma nova casa...

A mulher poderá dizer sim ou não e se for afirmativa sua resposta, que seja para compor uma parceria de troca, de caminho mútuo...

Os dois formarão um novo núcleo onde, se sentirão comprometidos e livres para viver aquela vida com transparência, dedicação e responsabilidade.

Mas preservarão o desejo de estar juntos, de se amarem fisicamente e afetivamente, serão parceiros na construção dessa família e terão responsabilidades e direitos iguais.

Mas não...

Queremos manter a fachada do casamento onde o homem está sempre preservado como varão que tem direito a tudo, afinal é homem né...

E queremos fantasia pura e simples onde mais importante do que a vida diária é o conto de fadas que a propaganda conta para as mulheres e estas compram sem pestanejar...

Casamento é luta.

Casamento é entrega.

Casamento é às vezes negação para se afirmar logo mais adiante.

Mas casamento é principalmente projeto que se constrói com suor e esforço, com alegria e renúncia, com disposição e companheirismo.

Sem isso, é apenas gente teórica discutindo ideais que não dizem mais nada à vida real e concreta.

Fiquem bem.