O QUE TEM VALOR?

Jesus costumava usar imagens e comparações que diziam de imediato à vida das pessoas e fazia com que elas, além de ouvi-lo, tivessem a ousadia de pensar sobre os diferentes assuntos. Sim eu disse ousadia, porque para muita gente de ontem e de hoje, pensar se tornou um artigo de luxo, inatingível.

Bom conhecedor do coração humano, usava imagens econômicas para mexer com o raciocínio de quem o escutava.

O texto que lemos hoje no evangelho fala disso: encontrar um tesouro valioso ou uma pérola de muito valor, vender os bens que possui e adquirir aquilo que lhe trará mais riqueza e satisfação.

Está correto pensarmos que a imagem está fazendo uma relação entre sabedoria e riqueza: quem é sábio escolhe as coisas mais valiosas.

Mas será que é só isso que Ele quis falar? Não teria uma outra forma de relacionar esse acontecimento com nossa experiência humana?

Vamos por parte:

a) a riqueza sempre tem que estar em coisas que produzem valores acumulados? Não posso ser rico e encontrar tesouros que à primeira vista, ninguém daria nada e pra mim aquilo ser muito valioso?

b) qual o sentimento de quem encontra algo que lhe dá prazer e satisfação? A alegria parece ser o maior bem de quem encontra algo que lhe dá sentido na vida. Seja o que for o tesouro, ele não pode ser um peso e nem pode gerar medo ou preocupação, senão não é nada valioso.

c) porque preciso vender o que tenho e não simplesmente comprar o que achei de especial? Porque em matéria de vida (e não acreditem se o capitalismo falar o contrário) nada que realmente tenha valor pode ser acumulado. Riqueza para o reino significa se desvencilhar do que prende e, a postura das personagens da parábolas dizem isso: se encontro algo especial, abro mão daquilo que eu pensava ser valioso para ficar somente com o que faz sentido.

d) a sociedade humana nunca teve tantos recursos e nunca atingiu o patamar de conforto e possibilidade de comunicação como agora. Nunca tivemos tantas coisas valiosas como temos agora. Nunca acumulamos tanto como nesses tempos ( e dizem que estamos em crise...). Mas no mesmo tanto que temos coisas, adquirimos também a frustração e a tristeza...

Vivemos o chamado século da depressão. E os especialistas ensinam que não se trata apenas da depressão que comumente identificamos e tratamos (aquela que causa tristeza e perda de ânimo). A depressão hoje existe em inúmeras formas e manifestações e todas elas vão se camuflando em consumo.

Sim, o consumo é a grande válvula de escape para nosso tempo depressivo.

Imaginamos e nos fazer crer que consumir é a grande saída para todos os males.

Compramos o que precisamos e o que nunca usaremos.

Desejamos ter coisas que nem sempre nos dizem nada. Apenas pelo fato de que fomos despertados pela propaganda que diz: SE VOCÊ TIVER ISSO OU AQUILO VOCÊ SERÁ CAPAZ DE COISAS EXTRAORDINÁRIAS.

Queremos possuir tanto, que até pessoas se coisificam e se objetificam para nosso consumo.

E tudo o que poderia fazer sentido, é deixado de lado pois não parece ter valor...

Desconfio que o maior tesouro que aqueles dois do evangelho encontraram não tenha sido a coisa em si. Mas sim, a coragem para se desvencilharem do que os prendiam e faziam seguidor de uma vida sem nenhum sentido.

Quem tem ouvido, ouça...

Fiquem bem.