A LETRA DA LEI E O AMOR

Tudo certinho sob o peso da letra da lei sempre traz segurança e sossego.

Marx vai dizer que essa segurança deve ser aprofundada para sabermos quem ganha com tal segurança. Mas é isso: ficar sob a letra da lei pura e simples traz segurança e parece gerar a tão falada segurança social.

Do ponto de vista religioso não é diferente: igualar tudo sob o peso da uniformidade legal traz uma sensação de segurança que chega a cegar os olhos. Não é à toa que manter as aparências da obediência da lei faz com que as pessoas se sintam autorizadas a fazer o que quiserem desde que a fachada esteja garantida.

Jesus foi alvo dessa contradição.

Não se ouviu de sua boca nenhuma palavra que tirasse o mérito da Lei e do Profetas. Pelo contrário, sempre atento, procurou dar plenitude a ambos.

Mas o que é então que incomodava os críticos de Jesus?

Simples: a lei era vista a partir de uma chave de leitura que passava por outros trilhos e não a mera observância da letra.

Essa chave (= misericórdia) faz com que a lei seja revigorada não pela letra e sim e pelo sentido e pelo alcance do que se avalia.

E convenhamos ninguém gosta disso.

Basta o papel que comprove minha aceitação e cumprimento da lei e isso já funciona como reflexo de uma convicção que total observância.

Jesus quer ir além e propõe que vamos além.

Para os saduceus passa a ser insuportável dar razões do que se crê...

Para os herodianos fica inviável questionar as bases de sua crença...

Para os fariseus é atroz pensar que não basta fazer por fazer e sim fazer porque se acredita e ser crescer...

Os inimigos de Jesus começam a pensar que suas perguntas e iniciativas geram um desconforto que está além de suas forças. Não foram formados para isso e não querem rever suas posturas...

Porque?

Porque rever e reaprender significa redimensionar as coisas e optar pelo que essencial e não pelo que é adereço e enfeite.

No texto de hoje os fariseus querem pegar Jesus em contradição. Conhecem a lei e sabem que Ele a conhece. Mas querem saber sua maneira de lê-la: qual o maior mandamento?

Perguntam porque querem aprender?

Não.

Perguntam porque querem demonstrar que o outro é livre demais e portanto, perigoso demais para a religião. E como religião nem sempre tem a ver com Deus... ( concluam vocês mesmos a frase).

Para Jesus é simples: A LEI DIZ QUE SE DEVE AMAR A DEUS COM TODA FORÇA, ENTENDIMENTO E VONTADE.E AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO.

Onde está o erro?

Em dizer a Lei com a liberdade de quem vai além da força da lei.

E isso é vital para quem quer ser fiel.

Um marido que não trai a esposa só porque não pode, quando estiver longe do não pode talvez o fará. Mas aquele não pratica a traição porque ama com força e como a si mesmo, não o fará porque sabe o que é o amor.

Talvez essa seja a chave para entendermos os críticos do Papa Francisco. Dizem que ele não valoriza a doutrina e a tradição. Mas será que o Papa não está propondo o mesmo caminho que Jesus: a lei é essa mas só vale a pena cumpri-la quando se tem algo que vá além da letra.

Uma religião só de não é perigosa porque faz com que nunca se queira aprender e descobrir o sentido das coisas e a fidelidade estará sujeita estritamente ao preceito puro e simples.

Uma religião só de sim não valoriza o aprendizado porque nunca permite a revisão e a descoberta de novos caminhos. Afinal, cada um faz como quer...

Mas a verdadeira religião é aquela que propõe um caminho e possibilita que cada um descubra como andar e trilhar esse caminho, dando a oportunidade de escolher, acertar e errar e quando se erra, saber que pode voltar e se acertar, corrigir e redirecionar os passos.

E é essencialmente uma religião que parte do amor que gera vida.

São João escreve na sua epístola: QUEM AMA NÃO PECA...

Fiquem bem.

Comentários

  1. Não se ama verdadeiramente pela a força da lei. Mais sim que há de mais belo forte, profundo e gratuito. simples assim!

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  2. Acredito que é o certo..ir além da lei..e entender cada caso...o contexto..do contrário a lei será muito fria..trazendo muito sofrimento!!!


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