O PROFETA FALA E NÃO É ACEITO

Numa sociedade onde existe uma estagnação social determinada pelo nascimento é muito compreensível (não sei se aceitável) que as pessoas se surpreendam quando descobrem que alguém nasceu pobre, filho de trabalhador e por algum motivo, se tornou capacitado para alguma tarefa.

No tempo de Jesus as coisas eram assim: nasceu em qual classe social? nasceu em qual cidade? é filho de que tipo de trabalhador? tem qual lastro social? Essas perguntas ditas assim soltas podem parecer pequenas. Mas no dia a dia determina não só a qualidade de vida da pessoa como também a extensão dos seus sonhos.

Como poderia o filho do carpinteiro ser capaz de falar coisas bonitas sobre Deus para nós que somos da classe estudada? Como poderia esse que aí está e veio de Nazaré (poderia vir coisa boa?) e ser capaz de dar sinais do amor de Deus (sim, porque milagre nada mais é do que isso)?

Jesus tem uma espécie de amargura ao reconhecer que as pessoas não são capazes de entender que Deus age dos modos mais belos e controversos. Mas também sabe que seu papel também é o de quebrar os paradigmas que foram cunhados pelos controle social e ela cultura dominante.

Essa leitura que fazemos hoje na liturgia é muito importante por dois motivos principais (ao menos para minha meditação).

Primeiro nos chama a atenção do papel iconoclasta que Jesus assume e realiza com sua missão. Ele propõe uma releitura de tudo e uma recuperação de uma chave de leitura onde o entendimento das coisas de Deus não é um simples legitimar as coisas humanas ou estabelecidas. Mas sim e também uma busca por tirar coisa novas e velhas do seu tesouro.

Depois abre a possibilidade de discutirmos os preconceitos que esse tipo de visão traz: ninguém pode ser ou querer ser nada além do que aquilo que a cultura e o controle social lhe determina.

Reconheçamos que ainda isso permeia nosso entendimento sobre a estrutura da sociedade brasileira. Quem esse negro pensa que é? Porque os nordestinos não ficam na onde moram? Porque abrir programas sociais que incentivem o estudo dos pobres e trabalhadores? Porque cotas raciais se todos podem estudar e só não o faz quem não quer? Porque dar o direito das mulheres pensarem que são iguais? E por aí vai...

Filhos de uma visão do padroado onde seria bom deixar tudo como está, nos assustamos com a infinidade de expressões carregadas de preconceitos que nos cercam. E o pior, sem cerimônias dizemos: SEMPRE FOI ASSIM E ASSIM DEVE SER.

Um filho do pedreiro querer ser médico?

A filha da empregada ser engenheira?

O preto filho do bar da esquina ser dono de uma loja no shopping?

O aleijado querer ser tratado como prioridade?

O velho achar que pode furar fila?

Aquela mulher querer ganhar o mesmo que os homens?

Resultado de imagem para filho de pedreiro e catadora se forma em direito e homenageia pais no pi

Sim, ainda pensamos num círculo restrito e fechado e achamos isso bom porque garante a tradição, a família e a propriedade.

Hum, temo que ainda hoje seríamos capazes de condenar Jesus e pedir para Ele sair da nossa terra. E seríamos capazes de não ter fé suficiente para ver os milagres acontecer. E Ele deixaria nossa terra porque não encontrou em nós fé suficiente para aceitar a beleza das escolhas de Deus.

Condenamos os pobres ao peso da pobreza e achamos ainda que estamos com Ele.

Onde estão os profetas capazes de denunciar nossa falta de fé?

Fiquem bem.

Comentários

  1. Bela reflexão! Tudo q que vc escreveu é muito verdadeiro, o preconceito existe sim.. e muito!!! A realdade é que camuflam-o fingindo, pensam que ninguém percebe, falam uma coisa..----agem ou pensam de outra forma. /////Profetas? Devem existir mas, ninguém está reconhecendo-o. Bom dia Pe Luis.Abraço

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  2. Apesar da dura realidade que o texto traduz, prefiro uma visão mais otimista a respeito do ser humano. Tem muita gente boa por aí tentando mudar o destino dos pequenos. E tem muitos pequenos lutando, suando a camisa, dando o melhor de si, e conseguindo dar um outro final à sua história. É neles que me apego e dedico todo o meu respeito.

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  3. Apesar da dura realidade que o texto traduz, prefiro uma visão mais otimista a respeito do ser humano. Tem muita gente boa por aí tentando mudar o destino dos pequenos. E tem muitos pequenos lutando, suando a camisa, dando o melhor de si, e conseguindo dar um outro final à sua história. Exatamente como o garoto da foto. É neles que me apego e à quem dedico todo o meu respeito.

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