O QUE ME INTERESSA SABER?

Uma coisa que me custa a entender: porque que a insignificância ganha tratos de prato principal através das redes sociais e da própria rede?

Não acho nada absurdo que num mundo onde a imagem e a autoimagem têm poder de construção da identidade do indivíduo ainda que tire dele toda e qualquer liberdade, natural que as pessoas queiram aproveitar a wave para surfar sobre o modo como se vê ou como gostaria de ser visto e com isso, aumentar o índice da sua insignificância.

Mas para mim é complicado aceitar que, tal modelo encontre eco na vida diária de todos nós a ponto de roubar os canais de informação e mesmo de lazer que temos. Me explico.

Sou assinante de um portal de notícias. Depois que me mudei para o Amazonas perdi o hábito de ler jornais em papel diariamente (hábito que cultivei desde o primeiro dia de aula em que o professor de Introdução à Filosofia disse que era impossível ser um pensador sem estar conectado com os acontecimentos do seu tempo). Mas lá era impraticável fazer uma assinatura de jornal e passei a ser consumidos de notícias via net.

Confesso a precariedade disso, mas é assim que consegui me manter conectado.

Mas hoje, por contenção de despesas, ainda não consegui voltar a assinar meus jornais e mantenho contato com os sites de notícias. Tem seus prós e seus contras.

Mas tenho ficado irritado como que a insignificância tem tomado conta dessas sites.

Primeiro pela quantidade vazia de notícias. Tudo gira em torno dos interesses econômicos de quem administra os sites ou então, dos interesses ideológicos.

Mas depois, pelo descabimento das notícias.

É muito comum se ler: FULANA ANUNCIA A GRAVIDEZ. SICRANO É VISTO DE MÃOS DADAS COM BELTRANA. FILHO DE FULANO ESTAVA NA FESTA DE SICRANO.

Tudo o que não significa nada, de repente ganha ares de profunda importância. O que acrescenta para o meu dia a dia saber que o bebê de algum artista é menino ou menina? O que importa de fato saber se a festa de casamento do casal custou os milhares de reais que geralmente custa?

E sabe, não se trata de desprezo por essas coisas, mas sim de perceber que todos os espaços da nossa vida estão sendo ocupados pelo peso da insignificância. Nada mais vale nada ou simplesmente tudo vale tudo.

Perdidos que estamos, vivemos sem nunca dar valor ao que realmente importa. E somos bombardeados por aquilo que nunca importa. Cegos, surdos e mudos, vamos deixando a invasão do nada ocupar nosso tudo diário.

Fiquem bem.