O CONVITE E A RESPOSTA

Uma diferença básica entre a literatura dos evangelhos e a hagiografia (vida dos santos) é que os autores dos livros da boa nova não tentam maquiar ou esconder as deficiências humanas na hora de contar a santidade das personagens. Ser santo para eles, não significa de modo algum não ter o traço da humanidade. Mas sim, ter a coragem e disposição de caminhar de responder ao chamado de Deus sendo quem é e buscando modelar-se a partir da experiência do seguimento.

Isso muitas vezes nos passa desapercebido e é um perigo porque cria a ilusão de que essas pessoas seguiram Jesus e viveram experiências profundas e transformadoras porque não eram como nós, humanos...

Marcos (3, 13- 19) nos brinda com um belo texto na meditação dessa sexta feira.
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Nele descobrimos dois elementos que estão em contraponto e por isso mesmo, merecem nossa atenção.

O primeiro é o fato de Jesus valorizar o momento da escolha dos que formariam o grupo de seguidores a ponto de passar a noite em oração. Para Ele não se trata apenas de escolher pessoas mas sim de ouvir a voz de Deus e escolher quem pode contribuir com o projeto e a missão.

Os nomes citados vão revelando a cotidianeidade das coisas: são pescadores, irmãos, pessoas conhecidas e provavelmente interessadas já pela mensagem que Jesus tem anunciado.

Mas depois, Marcos não sente medo em descreve-las com características profundamente humanas: Pedro a quem admiramos e respeitamos como primeiro papa da iGreja foi capaz de negar, em outra situação usou de violência física ao cortar a orelha do soldado, tentou desviar Jesus da missão até Jerusalém...

Os irmãos discutiam quem seria o maior depois que Jesus fosse morto...

Judas chegou mais longe e traiu o grupo entregando Jesus e deixando vulnerável diante dos poderes contrários à sua missão.

Será que Jesus não poderia ter escolhido melhores/ Será que não poderia ter evitado essas falhas? Será que sua oração de nada serviu?

A fé nos diz que são perguntas equivocadas. Jesus os escolheu APESAR dos erros e das deficiências. Porque também faz parte do projeto de Deus a possibilidade de crescimento e transformação.

Não há da parte do evangelista um julgamento moral disso. Apenas constata que a escolha não foi por pessoas perfeitas e intocadas. Mas pessoas com dificuldades humanas que, apesar delas, vão procurando aprender e tentando aperfeiçoar sua caminhada junto a Jesus.

Infelizmente passados 2000 anos ainda não aprendemos muito bem essa lógica e, quando se trata da vida comunitária, queremos que as pessoas sejam perfeitas e já estejam lapidadas o suficiente para não errarem. O que é impossível...

E quantos foram impedidos de entrar...

E quantos foram convidados a sair...

E quantos tem vontade de se achegar mas não conseguem espaço...

E quantos preferem olhar de longe e sentir saudade...

E quantos deixamos pelo caminho por causa dos erros que cometeram...

Nesse dia, tratemos de repensar nosso comportamento e nossa idealização acerca do que significa fazer parte do projeto e da missão de Jesus e aceitemos que falhos que somos, podemos errar e sempre teremos a chance de recomeçar...

Fiquem bem.

Comentários

  1. Excelente sua reflexão! Qtos Santos ou Anjos existem sem que tenhamos conhecimentos.....Aqui viveram -- assimilaram os ensinamentos de Jesus.- e hj certamente encontraram a luz.//// Fazer parte do projeto - aceitar nossa missão- querer ou se esforçar para uma transformação interior pode ser um belo recomeço.

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  2. Estar disposto a mudanças, a se lapidar...é o que importa...sejam santos ou não...

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