SERÁ QUE SOU CAPAZ?

Já passamos por fases.

Já tentamos criar inúmeros argumentos que pudessem justificar nosso comportamento.

Mas sempre fica uma brecha para sermos iluminados pela Palavra.

Bendita Palavra!!!

Houve um tempo em que fora nos ensinado que fazer caridade era dar coisas para as pessoas. Éramos capazes de grandes esforços para atender esse perfil.

Depois com advento da caridade artística, começamos a ajudar causas. E nos envolvemos com inúmeras situações onde fazer o que reis e rainhas da tv e do esporte faziam era nosso ideal.

Aí veio a caridade travestida de dons. Começamos a pensar nos dons que cada um tem para pô-los a serviço de quem precisa.

E chegou o tempo do marasmo... Nada e ninguém me movimenta para fazer nenhum tipo de doação.

Seja qual for o modelo de caridade que me encaixo ou aquele que menos me incomoda, o Evangelho é sempre fonte de água viva que devemos voltar para saciar nossa sede de sentido.

Em Lc 10, 25- 37 que lemos na liturgia hoje encontramos uma dessas luzes que entra pela fresta da janela e nos faz perguntar QUEM É O MEU PRÓXIMO.

O texto é conhecido de todos nós. A ideia de que as pessoas precisam de resposta definitivas sobre como viver faz com que seu encontro com Jesus seja sempre uma forma de pô-lo à prova.

Um mestre da lei pergunta: COMO RECEBO A HERANÇA ETERNA?

Jesus responde com gentileza: COMO VOCÊ LÊ A LEI.

Existe um entendimento da parte de Jesus de que sabemos o que devemos fazer mas sabe também que nem sempre lemos e interpretamos com o mesmo sentido.

O rapaz que havia feito a pergunta responde e ao que parece, tinha um bom entendimento da lei. Tanto é que Jesus nem vê necessidade de grandes explicações pois o entendimento estava correto. FAZE ISSO E VIVERÁS, diz o Mestre.

Mas aí precisa ser feito um corte psíquico na cena. O texto não fala, mas devemos perguntar: SERÁ QUE O RAPAZ DA PERGUNTA QUERIA MESMO SABER COMO SE CHEGA À VIDA ETERNA?

Digo isso porque ele tenta se justificar como sendo alguém que não pratica a lei porque não sabe identificar o que a lei lhe inspira. Ao perguntar QUEM É O MEU PRÓXIMO ele não só alega ignorância, mas espera encontrar um atenuante para não ter que fazer o que deveria ser feito.

Jesus conta a parábola do homem que foi agredido e machuca e roubado enquanto viajava. Fica na beira da estrada jogado quase sem vida e por ali passam figuras que representam a lei e o entendimento da lei: o sacerdote e o levita.

Ao apresentar esses personagens que figuravam no imaginário de santidade e cumprimento ideal da lei, Jesus levanta a questão entre SABER e FAZER. As vezes sabemos o que fazer mas nem sempre pomos em prática o que deve ser feito.

Não há da parte de Jesus nenhum julgamento sobre essas personagens. Apenas tenta demonstrar que não estavam preocupados em ganhar a vida eterna pois não fizeram nada e ignoraram o sofrimento do outro.

A terceira personagem surge como um elemento iconoclasta: os samaritanos eram considerados gente sem cultura e não tementes a Deus. Era como se fosse um rótulo: ao dizer que se era samaritano já se estava definido que ele não era cheio da graça.

Mas foi ele que SEM SABER A LEI a colocou em prática...

Resultado de imagem para o bom samaritano

E observem os passos da ajuda que o samaritano dá:

> chega perto;

> sente compaixão;

> se aproxima e faz curativos;

> coloca o homem machucado no lombo do seu animal;

> leva a uma pensão onde cuida dele...

Todos os gestos são de proximidade de empatia e de reconhecimento que ali estava alguém (desconhecido) mas que precisava ser reconhecido como irmão...

São gestos que para nós parecem impossíveis de serem realizados dado os perigos que ronda nossas relações é verdade, mas também porque é exigente demais.

A prova cabal de que o samaritano entendia a lei mesmo sem conhece-la está no fato de que, faz tudo isso, e ainda deixa dinheiro e recomendações para o dono da pensão manter os cuidados no doente e realiza a promessa: VOU VOLTAR PARA SABER COMO ELE ESTÁ...

Essa história contada com generosidade por Jesus é também um modelo daquilo que Deus faz conosco: somos esses que são vilipendiados pelas estradas e ignorados por muitos poderes. Mas Jesus insiste em passar, cuidar, levar, zelar e promete sempre voltar para que o cuidado seja definitivo e verdadeiro.

A caridade, nesse sentido se assemelha a fazer o bem como regra básica da vida. A lei que impunha essa responsabilidade para o sacerdote e levita não foi suficiente para move-los em direção ao outro. O que valeu mesmo foi a empatia em que o homem machucado era tão somente a imagem de cada um de nós. Sim somos todos esse camarada machucado na beira da estrada. O que precisamos encontrar agora é nossa vocação de samaritanos como capacidade de parar para ajudar...

Fiquem bem.

Comentários

  1. Qualquer um é capaz...Só ter um pouco de bom senso, e amor o próximo!!!

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  2. Depois da leitura só fica a pergunta do título na cabeça... Abç

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  3. É. ....às vezes- -qtas vezes! Até somos capazes de atitudes de amparo, de zelo.......mas é feito sem amor, sem paciência- apenas como uma "obrigação" ////////tenho pensando muito nisso esses dias e me perguntado: ---- Amparar, zelar parecendo sacrifício pode agradar ao Criador??? (penso que nao, tenho certeza que nao!) Abraço padre.Boa noite

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