ESTAMOS DOENTES
Essa semana fomos surpreendidos por duas notícias chocantes e ao mesmo tempo revoltantes.
Mas sinceramente não sei se o que nos horrorizou foi de fato o que deveria ter nos impactado. Pensemos...
No Piauí um menino de 13 anos é encontrado dentro da cela de um detento escondido debaixo da cama após o término do período de visitas. O detento está preso por abuso de menor.
Em Janaúba (MG) um segurança de uma creche ateia fogo no prédio, mata 10 pessoas e se mata. Entre os mortos, como é de se esperar, crianças que estavam ali para serem protegidas.
Horror.
Mas na superfície das histórias, tentamos dizer que pessoas como essas (o segurança que estava em tratamento psiquiátrico, o detento que já tinha histórico de estupro ou os pais do menino que consentiram que a criança lá ficasse) são monstros e merecem paredão, senão de fuzilamento físico porque ainda não se pode faze-lo no Brasil, pelo menos de achincalhamento moral.
As redes sociais e notícias da web bombaram com a possibilidade de dizermos que eles não são nós...
E é aqui que precisamos ter coragem de colocar o dedo na ferida...
São pessoas cruéis que conseguem agir assim. De fato, eles não são nós. Mas fazemos parte dessa doença crônica e social e é por isso que dói tanto pensar nos fatos com clareza e profundidade.
Um menino de 13 anos que trabalha como carvoeiro (segundo a Unesco um dos trabalhos mais degradantes da terra) e que sonha em ter doces para comer quando tiver fome deveria ser a denúncia profética de que tem algo errado no reino do consumo e do bem estar a qualquer custo.
Essa criança que, desde muito cedo foi preparada para se deixar abusar (o pai disse que o menino pediu para ficar!) traz uma chaga da qual ninguém quer ver e assumir: bombardeada desde cedo pela ideia de que consumir é o elixir da felicidade, deu o seu jeito de arrumar recursos para poder saciar sua fome de felicidade.
O moralista hipócrita vai dizer que isso não se justifica porque ele (sempre o centro da universo) desde cedo trabalha e nunca teve que se prostituir.
Verdade, caro fariseu. Mas nunca moramos nas condições degradantes física e moral que essas pessoas muitas vezes vivem. O pai do garoto também já havia sido preso sob a acusação de ter cometido abuso. E quando não se enxerga saída como muita facilidade descobrimos que o melhor é ser o que se espera de nós.
E aqui a doença social que ninguém quer ver.
Nós emboscamos milhares e milhares de crianças e adolescentes nesse mundo sem saída. E quando acontece o horror que a TV nos relata, o máximo que conseguimos é dizer "ele é um monstro".
Talvez porque pensamos que assim estamos nos distinguindo dos monstros que a TV diz ser eles e não nós, e não ela.
Já na tragédia da creche mineira o espanto está em ver a crueza dos detalhes e a falta de valor da vida. Aquele homem estava doente sim. Ok. Mas ele não conseguiu ver e os outros não puderam ou não quiseram ver que sua capacidade de julgamento era pequena e, se ameaçava cometer uma loucura, poderia ser a qualquer momento e com quem não tinha nada a ver com seus sofrimentos.
A ideia de que sou frustrado com minhas dores e sofrimentos e portanto, posso e devo agir como e quando quero é assustadora.
Ninguém poderia prever que o desfecho da história seria com tamanha dor. Mas poderíamos prever que a dor de um ser doente precisa ser cuidada e olhada com respeito para que não se estenda além daquilo que já é em si.
Fico muito angustiado quando penso que talvez ao meu redor tenha pessoas com dores imensas das quais eu não consiga ver e ao menos me por junto para ouvir ou sequer olhar.
Pequenas dores geram grandes tragédias.
Estamos num tempo doente. Mas não pensem que a doença é do outro. É nossa. Nós colocamos crianças e adolescentes em situação de risco. Nós alimentamos esse ciclo vicioso de horror. Nós deixamos nossa sanidade de lado para poder comprar a felicidade a qualquer custo.
O que fazeis a esses pequeninos é a mim que fazeis...
Dói.
Não dá pra ficar bem...
Angustiante. Esses dois casos foram mais dois nessas cenas de horror que ficamos sabendo, diariamente ouvimos barbaridades e nada é feito. . ..parece que a falta de noçao do errado -do criminoso SUMIU. Grata por partilhar seu pensamento.
ResponderExcluirEspetacular sua reflexão!!! Estamos doentes ..o mundo está doente.!!!.Quanta casos terríveis ocorrem por tds os lados e nem ficamos sabendo...só o que aparece na mídia...Precisamos olhar mais p o outro e suas dores,agirmos mais... isto é termos mais compaixão com os seres humanos principalmente com os mais desvalidos!!!
ResponderExcluirQuanto sofrimento.!!!..Pobres crianças ..pobres pais!!!
ResponderExcluir