SER ANTES DE MAIS NADA

O poeta Walt Whitman tem um verso que considero memorável. Diz ele:  " eu sou contraditório. Sou imenso. Há multidões dentro de mim".

Alguns poderão argumentar que se trata apenas e tao somente de uma imagem poética, mas aproveito para dizer que acredito nisso verdadeiramente. Essa multidão é não somente de personas que ora se mostra doce e sensível, ora se mostra irritado e perplexo, mas também sinto que tem muito de animais e de plantas e de vento e de cores dentro de mim. 

Quando me disponho a fazer um processo de autoconhecimento começo a descobrir essas imagens se manifestando e eu dando voz a elas de acordo com minhas necessidades e possibilidades.

Não se trata de múltiplas personalidades. Não. Sou eu, sempre... Mas se trata de muitas maneiras de ser que aparecem e apontam para o mais intimo daquilo que sou e vivo.

Gosto dos textos em que aparecem as irmãs de Lázaro. Acho-as um requinte de personalidade verdadeiras, afáveis, corajosas e revelam pessoas em busca daquilo que pode satisfazer sua aventura na terra.

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Falam com Jesus com intimidade e quase sempre ouvem Dele correções que as ajudam a lapidar o que são. Marta e Maria são generosas mas impetuosas precisam de cuidados e o melhor, elas aceitam e aproveitam cada gesto de Deus em suas vidas.

Hoje a Igreja nos propõe na liturgia que olhemos para elas (Lc 10, 38- 42) a partir daquele encontro dado na visita de Jesus à sua casa onde uma vai cuidar dos afazeres e a outra se senta para ouvir e aprender de Jesus.

Quase sempre esse texto gera em nós uma reação moralizadora: TEM TEMPO PRA TUDO MENOS PRA REZAR. Mas não sei se consigo enxergar se de fato é isso que trata a narrativa...

De princípio já temos que reconhecer a distinção honesta das irmãs: se uma consegue parar e ficar com Jesus a outra é tão honesta quanto pois quer trabalhar para dar conforto à visita amiga que está recebendo.  São atitudes coerentes e verdadeiras.

Mas penso que valeria à pena arriscar uma outra leitura.

E se pensarmos que aquilo que aconteceu na casa das irmãs de Lázaro foi contada pelo evangelista para dizer dos múltiplos "eus" que habitam nosso interior? E se Marta e Maria fossem facetas da nossa própria busca por Deus? E se elas fossem tão somente o que somos quando se trata dos interesses que temos?

Explico.

Estamos em processo e nossa vida está pressionada por todos os lados. O tempo se tornou matéria escassa. Quase nunca temos tempo para nada e aqui talvez esteja o ponto nevrálgico da cena: mesmo assoberbados com tantos afazeres acabamos deixando de lado a possibilidade de sentar-se diante Dele.

Marta não erra porque estava correndo com as coisas para acolher bem o divino visitante. Marta erra porque não percebe que mais importante do que as coisas, é saber que existe um tempo ppara tudo inclusive um tempo para parar e ficar aos pés...

E não se trata de dizer que a correria não é importante. Quem faria o café ou o suco se Marta não tivesse se levantado? Quem levaria os filhos para escola, faria a feira, limparia a casa, passaria a roupa se não nos levantássemos?

Trata-se da falta de compreensão do momento presente...

O Senhor vem nos visitar (e quantas formas de visitas Ele nos faz!) e não percebemos que às vezes pe importante parar, é importante sentar-se aos seus pés...

Marta apenas achou que fazer coisas em demasia poderia dar a ela a tranquilidade que tanto precisava. Mas provavelmente descobriu que quanto mais faz mais tem por fazer...

E Maria quem é?

É aquele nosso eu que pensa que basta rezar e está sempre rezando e entregando tudo nas mãos de Deus mas não move uma palha para fazer sua parte...

Pensa tanto que rezar é importante que abre mão das outras preocupações...

Ela e nós nos escondemos atrás das preces e adorações. Não fazemos nada porque achamos que o mais importante é rezar e com isso, definimos que nossa oração é mais santa do que os outras.

Maria só se esquece que se não por a mão na massa e também olhar o momento presente talvez sua oração fique inócua e sem sentido. Pode até rezar e adorar sempre, mas não sabe ser solidária, não sabe ajudar, não sabe assumir a sua parte de responsabilidade com as coisas e o mundo.

Reza demais e age de menos...

O que Jesus quer nesse encontro é possibilitar a reconciliação do nossos eus num EU maduro e capaz de trabalhar e dar conta das correrias da vida, mas que também saiba parar descansar, curtir o momento e adorar a presença de Deus que não se cansa de nos visitar.

Que tal começar a fundir tudo o que somos num eu que busca estar com Ele?

Fiquem bem.

Comentários

  1. Por essa reflexão notamos que temos que ressignificar nossa existência...Equilibrar..fundir a oração e a ação como bem disse o evangelho e o pe...Assisti num programa matinal...um trabalho de pessoas voluntárias que acodem os acidentados dando lhes uma pré- assistência.médica
    .chamados: "Anjos do asfalto"...trabalham domingos e feriados ....Me senti pequena diante de tamanha grandeza espiritual!!!Isso p mim já é além da ação uma perfeita oração!!!

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  2. Adorei a reflexão! Sou muitas tb... ainda mais no momento em q vivo agora! E apesar da correria e da confusão interna e externa espero não deixar de estar e de agir com e por Ele! Amém!

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  3. Prefiro, sempre preferi conviver com pessoas que tenham " uma multidao dentro.
    dela" nao precisa ser multidao, mas que sejam transparentes---tenha dias diferenciados, que consiga me falar se realmente está bem - ou nao.....que sejam elas msm ...fujo de quem está sendo alegre /feliz/ bem humorado diuturnamente. ....me passa um tipo de falsidade /Temos o direito de ser doce e às vezes amargas.......também de rir, chorar, ser amável ou nao//Qto ao rezar----pensar NELE e no que Ele ensinou é uma oração .........Agradecer sp tbem é orar

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