PARTILHA 3
Existe da parte de quem chega uma ansiedade que é quase
sempre defensiva... conhecer logo para provar que deveria estar aqui, com essas
pessoas.
Mas sem dúvida a mesma ou talvez maior ansiedade exista por parte
de quem recebe: preciso apontar os meus trabalhos para que não haja nenhum
risco de ser substituído ou mesmo, desconsiderado.
Defendemo-nos, pois, imaginamos o que o outro nem sempre é...
Cheguei e gastei meus primeiros dias a ouvir e deixar-me
conduzir pelas mãos e o olhar do Pe. Pedro que estava saindo. Como disse
anteriormente, sentia nitidamente que ele queria e precisava falar. Talvez os
meses de solidão, as dificuldades enfrentadas, as dores sentidas tenham feito
dele uma espécie de homem entristecido e com alguma mágoa... seus comentários
não me deixam dúvida de que saiu com “coisas a se resolver”. Mas isso o tempo e
os novos encontros que ele fará em sua vida pessoal e ministerial poder
ajuda-lo.
Ainda por essas calhas, o bispo diocesano.
Ele também tem uma necessidade grande de ouvir as pessoas
para entender tudo o que aconteceu aqui e, como faz parte do ministério
episcopal, precisa dizer o que quer e como quer que as coisas se encaminhem a
partir de agora. Mas o seu olhar é de autoridade e nem sempre consegue chegar
ao âmago das pessoas e portanto, fala das coisas ideais e nem sempre se dá
conta das que são possíveis. Ele parte agora na próxima terça feira...
Da minha parte ficam os olhares fragmentados pois ainda não
pude conviver com as pessoas a ponto de deixa-las dizer o que sentem e querem e
mais, nem mesmo me conheceram ainda pois todas as referências se traduzem na
pessoa do Pedro e agora do bispo.
O que sei?
Que estamos numa terra onde o sentimento religioso é bastante
forte e intenso;
Que as pessoas aprenderam a se concentrar em alguns aspectos
pitorescos da fé como a piedade das novenas e as festas de santo (o que em
momento oportuno voltarei a falar porque é motivo de muitas dores e
dificuldades);
Que existe uma deficiência de entendimento de uma pastoral
mais orgânica e portanto, mais participativa;
Que historicamente as pessoas aqui aprenderam a receber
coisas e têm profunda dificuldade de assumir suas próprias histórias e decidir
os rumos da vida;
Que as distâncias e as dificuldades financeiras serão
determinantes no trabalho;
Que qualquer mudança só poderá ser feita depois de algum
tempo de caminhada e de convencimento sobre o porquê da mesma;
Que não se trata de mudar
lideranças ou refazer planos de pastoral; mas que a mentalidade precisará
sofrer uma ação que gere consciência e responsabilidade;
O que eu não sei?
Não sei por onde começar se não
for por tranquiliza-los sobre a não urgência de mudar tudo de uma hora pra
outra;
Não sei ainda escolher o que de
fato deva ser prioridade, ainda que saiba que os momentos litúrgicos devem
funcionar como irradiadores daquilo que eu pense e sou;
Não sei como lidar com os
desafios econômicos: vou precisar pensar num plano de aglutinação de forças
nessa direção e talvez reordenar os gastos que se tem com as coisas aqui;
Não sei como dar atenção ao todo
e evitar o erro da particularização dos grupos e encontros; esse erro deve ser
evitado a qualquer custo!
Não sei se terei forças e tempo
suficientes para ajudar essas pessoas e grupos a curar feridas e abrir uma nova
página em suas vidas;
O que creio?
Creio sinceramente que Deus mora
onde mora o amor e sinto que existem sinais concretos de afeto e
responsabilidade por essas bandas;
Creio que Lucas quando escreve
que OS APÓSTOLOS FORAM ENVIADOS A TODAS CIDADES E ALDEIAS AONDE O PRÓPRIO JESUS
DEVERIA IR, falava justamente disso: QUE VAMOS E DAMOS O NOSSO MELHOR, MAS O
TRABALHO É DELE;
Creio que onde tem gente, existe
a possibilidade de se fazer o bem e se construir laços profundos e duradouros
com Deus, com as pessoas, com a natureza e consigo mesmos;
Creio que não precisamos nos
sentir pressionados e nem forçados a fazer tudo; Paulo nos lembra UM É O QUE
ARA, OUTRO O QUE PLANTA E OUTRO AINDA AQUELE QUE VAI COLHER;
Creio que sempre existe nas
pessoas algo a ser despertado; não como quem manipula ou define, mas como quem
ajuda a buscar o melhor que cada um pode ser e dar;
Creio que não somos capazes de
tudo e nem devemos pensar em ser protagonistas de toda a história; em cada
cena, uma possibilidade de protagonismo da gente mas também dos outros;
Creio que nada esteja fadado a
ser sempre do jeito que são e que tudo pode ser reorientado e cultivado para
que, permanecendo Nele, se possa dar mais frutos...
Agora eu continuo minha meditação
tentando refletir sobre as pessoas que estão acompanhando essa missão à
distância.
Muitos me cobram sobre notícias:
e vocês não imaginam a dificuldade que é manter esses canais (tão poucos é
verdade) de comunicação abertos. Mas me propus a assim faze-lo e enquanto for
possível, o farei.
Mas me questiono: quantos os que
leem ou dizer ler o que tenho escrito...
Como reagem quando pensam em tudo
isso?
Como refletem os desafios que
lhes são oferecidos pela partilha?
Como entendem sua participação
nessa obra porque, querendo nós ou não, somos todos missionários e chamados a
dar um pouco de nós para que Cristo seja anunciado.
E não falo de dar coisas... ainda
que isso possa ajudar em muitos sentidos.
Fato sobre se sentir articulado
com o projeto: compartilhar, chamar à reflexão, envolver-se, responder,
procurar fazer sua parte para animar os que estão no fronte da batalha, se
incomodar com o lugar de conforto e entender que algo também precisa ser
assumido para si e para sua vocação cristã...
Das inúmeras partilhas que fiz
nesses dias quase sempre a resposta que recebo é apenas: legal, que bom receber
notícias suas, que coisa diferente e coisas do tipo... Parece que estamos
refratários ao compromisso de também IRMOS A TODOS OS LUGARES AONDE O CRISTO
DEVERIA IR...
Não entendam isso como uma cobrança
ou uma carência meramente. Entendam isso como uma oportunidade de construir
também uma identidade missionária para quem não quer facebookear a vida...
somos mais profundos e mais complexos do que querem nos fazer acreditar...
Tudo é caminho.
E tudo é caminhar.
A direção e os passos que quero
dar nascem das minhas escolhas e do meu desejo de fazer o meu melhor...
Fiquem bem.
Bom dia padre,fico imaginando aqui como nosso mundo e tao grande,cheio de costumes e surpresas e sei que mudanças não e fácil,sei também que é capacitado a essa missão que Deus e Maria esteje sempre ao seu lado, fique bem ai também 🙏
ResponderExcluirBoa tarde pe, vc pode pensar que não,..mas vc não imagina como seu exemplo me toca,...me fazendo refletir...sobre sua escolha e missão!!! Sair de sua zona de conforto, e enfrentar desafios...e entraves por esse mundão afora!!!Isso me deixa mais estimulada e fortalecida,em realizar missão e o bem, como cristã que sou...
ResponderExcluirFique bem tb...e conte comigo no que precisar..
Qdo leio seus textos, uso seus ensinamentos pra me transformar ou tentar me modificar através deles. Aprendo com suas palavras/por isso que leio e releio./// Tenho gratidão por td recebo vindo de vc obrigada - grata sempre.
ResponderExcluirPrimeiramente queria dizer do quanto fico feliz em te ver em tão pouco tempo, de certa forma, já tão maduro quanto ao que você pode e precisa realizar (e que bom que você compreende este "pode" para evitar frustrações desnecessárias). Por toda a sua reflexão inicial sinto que você está no caminho certo... você olha para as pessoas em profundidade, e creio que só assim mesmo para que você consiga tocá-las neste mesmo nível (não facebookiano).Quanto a resposta de quem está longe, fisicamente, posso dizer por mim que o convite de se deixar envolver e transformar por essa missão foi aceito... estou aberta a isso e isso tudo com certeza somará em mim, só não sei ainda o quanto eu posso somar nessa missão... Mas vamos descobrindo...
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