E AGORA JOSÉ

Quando a gente faz aula de teatro, de expressão corporal ou dança uma das primeiras aulas está em criar consciência corpórea daquilo que se está tentando transmitir. O corpo precisa falar aquilo que se sente e deve se comprometer a levar a quem assiste a ter as mesmas dimensões do sentir.

O autor Pierre Veil já imortalizou a expressão O CORPO FALA no seu livro de mesmo nome onde trata de apresentar as ações e dimensões do falar pelo corpo e o quanto que essas expressões legitimam ou não aquilo que se diz com palavras.

Ontem (sexta feira, dia 16 de fevereiro) assistimos a um balet mal ensaiado.

Parecia que os atores que estavam no palco estavam falando ou trechos de peças diferentes ou que haviam esquecido as regras que mencionei acima.

Um governador assustado e acuado muito menos pelo situação de descaso que grassa no estado onde foi eleito para administrar e muito mais derrotado pelos bastidores da negociação.

Um general sem muita convicção de que seja o momento de se fazer esse tipo de coisa e com certa desconfiança se agora não serão eles o "boi de piranha" usados pelos administradores civis incapazes.

Um ministério chamado para fazer figuração de plantas postas no canto do palco e, ainda que de corpos presentes, olhavam incrédulos as trombadas dadas pelos protagonistas.

O Legislativo apenas presente. Precisavam (quais motivos?) aparecer e quando chamados a dizer porque ali estavam, falavam sem nem mesmo saber do que diziam. O presidente da Câmara que é nascido no RJ chegou a dizer que era bom para o "povo do estado carioca" (quando na verdade, estado é fluminense).

O judiciário não foi... atenção para o Ato 2...

O presidente, incapaz de acreditar no que fazia, fazia apenas porque parecia que seria o esperado. Falou com dúvida. Disse pouco e quase nada com fundamento. Apenas precisou acordar de um sono que dura dois anos e que revela a sua incapacidade de ser governar.

Ah, a imprensa...

Alucinada. Cheia de furos. Com inúmeros especialistas falando, falando e parecendo falar de coisas que não eram o que estavam acontecendo. Citavam a Constituição. Mas não esperavam que ela tivesse ou desse alguma legitimidade pois sabiam que os passos do balet que lhe cabiam, estavam completamente avessos ao que a lei prevê...

Suspeito que tudo foi uma grande encenação. Dias piores virão. Esperemos. Mas acredito piamente que o que movimentou essa trupe circense toda não fora a violência que há muito fugiu do controle no RJ e em muitos lugares do Brasil. Mas o que gerou isso tudo foi o medo do morro descer para o asfalto depois que viu-se em cenas do "maior espetáculo da terra" o povo acordando e se recusando a deixar o pescoço à mostra...

Quem viver, verá.