TUDO E NADA

Os filósofos materialistas tinham inúmeras críticas à sociedade burguesa mas a principal era que ela gerava uma necessidade de "metafísica" para além do necessário. Para muitos deles, só importava o que de fato tinha lugar no extremamente necessário como comer, dormir, vestir, trabalhar, etc. Nada além disso realmente tem valor, diziam eles.

Não é à toa que para muitos dos críticos a esse modelo, o materialismo ficou com a pecha de ser ateu. Num mundo de necessidades prementes, pra que serve Deus e os penduricalhos da religião?

O que ambos os lados não contavam é que tanto as necessidades materiais como a dimensão metafísica são parte de um único e mesmo processo de humanização.

Sem a atenção ao que é estritamente necessário o ser humano se aliena e não constrói sua existência, vive à mercê da própria sorte. Porém, sem a dimensão metafísica das coisas e a relação com o Divino o ser humano se esgota em si mesmo e não consegue se abrir às suas reais capacidades.

Jesus está longe de ser um materialista. No entanto longe também está do transcendentalismo. Para Ele o ser humano precisa comer, vestir, estudar, se alegrar, trabalhar, ter saúde (vejam a quantidade de vezes que essas coisas estão nos evangelhos). Mas também precisa se relacionar com o transcendente e buscar encontrar o seu lugar teologal .

Em Lc 21, 34- 36 o encontro dessas duas dimensões fica claro: não deixem que as coisas urgentes e necessárias tirem de vocês a busca pelo transcendental e pelas coisas de Deus. Tratem de viver como quem caminha nesse mundo mas sabe que seu lugar está no encontro com Deus.

Em tempos de fins em si mesmos, parece que precisamos reavivar em nós esses elos do AQUI JÁ E AINDA NÃO e precisamos descobrir como buscar essa completude de que tudo é necessário mas nem tudo nos convém.

Fiquem bem.