BENDITO O VENTRE QUE TE GEROU
Historicamente os conteúdos de fé acabam por serem afetados pelos diferentes contextos e também interesses em jogo. Isso é impossível de ser contido e cabe a quem quer ter uma fé madura e responsável, ir peregrinando entre as coisas e descobrindo a raiz daquilo que realmente é o cerne do que se crê.
Sinto, com pesar, que abrimos mão dessa vocação já faz algum tempo. Acabamos por nos contentar com aquilo que aparece na superfície da fé e não nos importamos se há algo a se desvendar (=tirar o véu). Apenas ficamos com o mais fácil, mais palatável e claro, aquilo que mexe menos com nossos interesses. Sim, porque também tendemos a sermos seletivos com aquilo que queremos crer.
Com relação à solenidade que celebramos hoje acontece isso: A IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM MARIA ficou circunscrita a tão somente à celebração da concepção virginal de Maria sem que houvesse contato com o sexo, entendido durante muito tempo, como sendo o pecado original.
Fruto de uma idade média obscurantista e com interesses de proteção das grandes fortunas pois assim se guardava as mulheres com seu hímen para serem negociadas a preço de reinos, acabamos por empobrecer toda a grandeza do acontecimento dado em Maria.
A liturgia da Igreja foge disso. Mas quem foi que disse que temos pregadores com disposição para nos ajudar a ir além? Ou ainda pior: quem foi que disse que queremos enquanto assembleia celebrativa ir além dessa compreensão?
Mas a Palavra alimenta, ilumina e esclarece.
O dogma que proclama Maria capaz de conceber sem o pecado das origens traz em seu bojo alguns elementos que não podem ser esquecidos:
> primeiro, retoma o sentido da criação pois a salvação que vem de Deus é uma continuidade do ato de criar;
> Maria se contrapõe às figuras de Adão e Eva na medida em que, sendo chamada e procurada por Deus através do anjo, não se esconde como aconteceu com eles em Gn 3,9- 15.20;
> Ela também tem a consciência de quem é e, diferentemente dos dois primeiros pais, não precisa culpabilizar ninguém por seus erros ou dificuldades; já os dois, sendo primeiros, nos deixam de herança esse desejo de sempre repassar para o outro a culpa do que escolhemos fazer;
> Ela não se sente pressionada a nada, sabe conversar com o mensageiro de Deus e é limpa, transparente e digna de assumir sua vocação na liberdade dos filhos de Deus; já os primeiros pais, estão sempre com medo achando que a serpente tem mais razão do que Deus;
> Maria não fica com firulas diante do anjo; ela sabe o que sente, o que crê e se for entrar nos planos de Deus, quer entrar sem perder sua identidade ou sua maneira de pensar e ser; não finge ser boazinha, apenas vive seus valores e seus compromissos;
> E o mais importante, Maria mesmo recebendo a notícia de que será mãe do Salvador, não se enche de orgulho, de superioridade e muito menos de poder; declara-se o que de fato é, SERVA, e imediatamente ao encontro com anjo, vai servir a prima que estava grávida na velhice;
Vejam a profundidade do que celebramos hoje. E muitos ainda ficam apenas no aspecto físico da virgindade. Uns querem por toda lei provar que ela só foi virgem antes do casamento, outro querem provar sua virgindade antes, durante e depois de coabitar com José e com isso deixam de descobrir a grandeza da fé que está em manter-se íntegro diante de tantos convites das serpentes de cada tempo.
Bendita a mulher que te gerou... Bendita a serva do Senhor.
Fiquem bem.
Bendita! Bendita Mãe de Jesus.
ResponderExcluirMuito esclarecedor.
ResponderExcluirEstamos acostumados a venerar Maria como a Rainha e Ela o é. Não aprendemos a vê -la como dona -de -casa, cheia de ocupações e obrigações mas que soube colocar -se à disposição de Deus.
Pelo dogma da imaculada Conceição de Maria; Cantemos ao senhor nosso Deus, porque ele fez prodígios..Aleluia!
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