OS QUE EU VIM CHAMAR

O Evangelho desta sexta- feira (Mt 9, 9- 13) é uma grande riqueza para nossa reflexão pessoal e nossa vontade de aperfeiçoar nosso seguimento a Jesus. Mas é também uma espécie questionamento direcionado para que não caiamos ou saiamos da armadilha que muitas vezes entramos ou nos colocam dentro.

O texto é simples: Jesus seguindo seu compromisso missionário se senta à mesa para refeição com Mateus que era cobrador de impostos (categoria detestável para os judeus ortodoxos) e isso atrai outros cobradores de impostos e pecadores. Esse gesto simples e cotidiano na vida de quem está a caminho, sem residência fixa e sem grandes badalações, gera nos expectadores que já não conseguiam entender o projeto e a proposta de Jesus uma reação imediata: como pode alguém da parte de Deus se sentar com os pecadores?

Do ponto de vista da lógica e da racionalidade, ninguém se atreve a dizer que é mais santo e perfeito do que outra pessoa. Até fazemos algumas inflexões do tipo "todos somos pecadores, porém...". Mas no imaginário coletivo existe essa percepção sim de que, em algumas situações e realidades, pessoas podem e devem se sentir sim superiores a outras.

Jesus faz um desmascaramento dessa hipocrisia religiosa: vim chamar os doentes e pecadores e não os saudáveis e justos...

Na verdade com esse pronunciamento Ele não só redefine os destinatários da missão mas também desnuda o fato de que esses que pensam estar prontos e definidos não conseguem mais sequer ouvir sua Palavra e questionar-se na busca de tornar-se uma pessoa melhor.

Por trás do texto que estamos meditando encontramos uma teologia de inclusão mas também de saúde psíquica e espiritual. Sim, porque quem tenta se enganar mascarando os próprios erros e pecados, tem um peso a mais para carregar pois nunca se sente confortável pra se ser quem é e o pior, nunca se sente a vontade para retomar a caminhada de reconciliação com Deus e com o próximo.

Lembrei-me de um amigo que tive.

Ele sempre usava em qualquer situação o adjetivo DIFERENCIADO. Se ia comprar um relógio descrevia o modelo que procurava e dizia "que seja diferenciado". Se ia a um restaurante e gostava do local dizia: "você precisa conhecer, é um ambiente diferenciado". Se estava numa viagem descrevia os parceiros de viagem como sendo "pessoas diferenciadas".

Resultado de imagem para porque Jesus se senta com os pecadores?


Sempre achei estranho essa manifestação e sempre o questionei, afinal ser ou ter uma coisa diferenciada é algo normal porque na maior parte do tempo as coisas são diferentes né e isso é perfeitamente bom e aceitável. Mas o que ele e muita gente quer dizer com isso?

Na verdade vai na mesma linha: o diferenciado aponta para um elemento que não só me distingue dos demais mas também me coloca em oposição aos que são iguais demais ou se quiserem, que são limitados demais.

Por trás desse desejo há sempre uma vontade "farisaica" de não se misturar e garantir que alguém se sinta num patamar maior e melhor que os demais...

Doce ilusão...

Jesus abre para quem escuta hoje sua palavra uma porta para que entendamos que somos da mesma matéria prima seja física ou psíquica e espiritual. O que pode nos diferenciar de fato é como lidamos com essas características e o que fazemos com elas. No fundo o que interessa mesmo é a busca por sentar-se à mesa com Ele e dela aprender a bem viver.

Fiquem bem. 



Comentários

  1. Temos que ser humildes,...reconhecer nossas falhas, e procurar nos aprimorar sempre!!!

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  2. Ui! Reflexão dolorida e necessária. Pra ler diariamente. Obrigada!

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  3. Jesus estabelecia um vínculo de confiança entre as pessoas, deixando-as atraídas por seus ensinamentos, falando sobre o amor e o perdão....Ainda somos carentes de quem nos ensine a ter uma existência mais plena, sem julgamentos ..que reconstrua nossa maneira de olhar para as pessoas e tbem para a natureza. Abraço.Grata pela reflexao

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  4. Reflexão maravilhosa!!!!
    Infelizmente tem muitas pessoas que pensam como os fariseus e ainda não aceitam que Jesus é justo e misericordioso.
    Temos que ser mais flexíveis, humildes e caridosos para enxergarmos o sentido desse evangelho.

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