MEU PESO É LEVE

Vinde os que estão cansados e fatigados com grandes pesos pra carregar... Meu jugo é leve e meu fardo é suave, diz Jesus.

É um convite e tanto não é?

Mas se você parar pra pensar o "estilo de religião" que se consagrou entre nós está muito distante disso. A religião, com o intuito de ser fiel, acabou criando um peso muito acima do que aqueles que as pessoas já carregam e dos quais elas não podem, não querem e não conseguem mais carregar.

Religião (ao menos no modelo tradicional que conhecemos) se tornou portanto um código de observância estrito e estreito de normas e regras sejam elas morais ou cultuais e tudo gira em torno dessa dinâmica de estabelecer um ser humano ideal que a religião ensina e espera que atinjamos e a triste descoberta que somos incapazes de chegar a esse nível de desenvolvimento pois somos frágeis e fracos e erramos e pecamos e falhamos porque isso está na nossa constituição de seres reais.

Para muitos, encastelados na sua hipocrisia construída sob o alicerce das normais sociais e do status, é impossível aceitar-se e aceitar no outro a dimensão do real com as falhas e as belezas que vão dando os tons da vida. Escondem-se atrás das normas e dizem a si mesmos que tudo é pecado, desde que não esteja salvaguardado pelo poder mise en scene social: tudo é pecado, mas se a pessoa for branca, rica, hetera, casada (Deus sabe como), batizada, com bom sobrenome e usa véus nas celebrações, então tem seus atenuantes.

Resultado de imagem para vinde a mim vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei

Mas se for pobre, morar nas periferias, for negra, gostar de samba ou funk, for mãe solteira, separada, sem sobrenome e trabalhar para comer, tudo passa pelo crivo duro e constante de uma lei pesada que não só pune e distancia as pessoas de Deus, mas também da possibilidade de serem quem são e ainda assim conseguirem ser dignas.

No evangelho de hoje (Mt 11, 28- 30) Jesus desfolha esse modelo e diz que o que Ele prega é antes de mais nada uma colhida onde todos (sem exceção) têm lugar e cada um vai caminhar com sua forças e seus pés para onde Deus quiser levar.

Tem jugo sim. Tem peso sim. Mas é suave e leve porque Deus colocará o peso permitindo uma progressão de descoberta das forças que cada um tem dentro de si e das possibilidades que cada um tem de se tornar uma pessoa amada pelo que é e não pelos disfarces e escondimentos.

E caso a religião se recuse a esse processo de acolhida e incentivo à vida que se desabrocha com gratidão e generosidade, não se assuste se ela ficar cada vez mais sem espaço para dizer às pessoas do seu projeto e do seu entendimento sobre Deus e a vida.

É uma escolha que fazemos. É um programa de vida que assumimos.

Fiquem bem. 

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