TOMEMOS CUIDADO

Tomai cuidado para que a vossa justiça não seja do tamanho para ser vista pelos homens...

A Igreja inicia o tempo Quaresmal (o tempo do Espírito) nos convidando a tomar cuidado. É mais do que um lembrete. É uma admoestação para que escutemos o que Deus espera de nós e não nos conformemos com aquilo que a o mundo com suas etiquetas e preceitos pede.

Nossa justiça não pode se contentar em ser vista e admirada e consequentemente, acoplada à prática do mundo e suas instituições.

O Cristão maduro é aquele que se esforça ara assumir seu cristianismo como uma dádiva e um presente de Deus, mas também, como um convite a superar-se e em algum momento, tornar-se um com Cristo.

As práticas piedosas e religiosas existem para que aprendamos algumas coisas. Não são absolutas é claro e muito menos, imutáveis. Podem ser relidas e aperfeiçoadas de acordo com o tempo em que estão inseridas. Mas com certeza é um caminho que nos ajuda a não perder o foco do que buscamos e com quem fazemos parceria.

Jejum: não é de modo algum um privar-se dos alimentos como um herói estoico que simplesmente vence o desejo de comer. O jejum tem a dimensão do abrir mão para entender a importância daquilo que se tem e, por desdobramento, fazer com que minha atitude crie laços de comunhão com quem não come por muitos dias e, quando já estou mais consciente, devolver minha parcela de colaboração ao ficar sem, aproveito do dinheiro para acolher quem nunca tem.

Em tempos modernos de discussão sobre a saúde e as consequências de uma alimentação mal orientada, nos ensina também a perceber que nem tudo é necessário no meu corpo e as quantidades do que como ou bebo, podem ser redimensionadas como uma forma de cuidar mais e melhor de si.

O que não pode, e aqui o conselho de Jesus é CUIDADO, é fazer isso como um culto a si mesmo e uma atitude egônica que tem em si a medida de todas as coisas.

A segunda prática tem até uma palavra que já deve em muito ser superada por quem quer crescer em Cristo: Esmola.

A esmola era a oferta do que sobrava e tinha o sentido de dizer COMO JÁ ESTOU SATISFEITO, DEIXO ALGUMAS MIGALHAS CAIREM PARA QUEM PRECISA.

Para o Cristão que descobre em Cristo o sentido da sua vida ele não cai nessa armadilha. Entende que a oferta para quem precisa é um imperativo que exige de mim ação e consciência. Por isso nossa participação em projetos sociais, em ações colaborativas que fazem render o bem que temos na vida para outros que nem sempre o tem.

O dinheiro passa a ser apenas um símbolo (coisa que é de fato quando não fetichizado) do compromisso e da ação solidária.

Por isso o cristão é convidado a sentir-se irmanado com quem não teve as possibilidades que a vida lhe deu e assumir essa vocação é fazer-se irmão com os outros filhos do mesmo Pai.

A terceira prática é a oração.

Não a oração que empavoa nosso sentimento e diz que somos melhores porque rezamos por quem não reza ou por quem precisa.

A oração do cristão maduro parte sempre da consciência que construiu a partir do seu batismo e descobre que tem o direito de falar e ser ouvido por Deus. Por isso ora com o coração, com entrega e com profunda generosidade. E fala a partir do coração, sem empáfia, sem meandros, sem disfarce, com total liberdade e confiança porque sabe que o senhor ouve o mais íntimo do seu sentir e querer. E quer sempre coisas boas para si e para o mundo.

Nas três observações que Jesus faz no texto que nos motiva nessas cinzas encontramos a superação de um paradigma: SE VOCÊ QUER APENAS SER VISTO E ELOGIADO, ENTÃO FAÇA DE QUALQUER JEITO E FAÇA COMO QUEM QUER APLAUSO. E SE CONTENTE COM ESSA RECOMPENSA.

Mas se quer SER VISTO E AMADO POR DEUS, FAÇA COM LIBERDADE E GENEROSIDADE, COM CONFIANÇA E ENTREGA PORQUE A RECOMPENSA VIRÁ DE DEUS E ESSA NÃO DECEPCIONA...

Iniciemos nossa quaresma com gratidão por mais um tempo do Espírito.

Fiquem bem.