O MAIS QUE HUMANO EM NÓS
Na continuidade das reflexões sobre ir além do que se está previsto e daquilo que imaginamos ser o nosso limite, e também no processo quaresmal que é sempre um convite para superar os limites, o evangelho deste sábado ((mt 5, 43, 48) aponta novos desafios.
Amar...
Esse verbo ganhou contornos romanceados a partir do século XVI. Mas sempre foi importante no entendimento sobre os laços humanos que faz com que as pessoas construam relações afetivas permanentes. Amar é um convite ao compromisso com o outro.
Mas amar quem nos ama parece ser fácil (ainda que nem sempre é).
Amar quem nos agrada ou aparentemente vai na mesma direção que nós parece obvio (ainda que haja controvérsias sobre isso).
Amar quem gosta das mesmas coisas que nós seria no mínimo natural (ainda que em matéria de ser humano nada é tão simplista).
Mas Jesus coloca como desafio amar os inimigos...
Os críticos à religião dizem que esse tipo de forçassão de barra é um jeito de angustiar o ser humano a nunca estar contente consigo mesmo e a força-lo a aceitar aquilo que nem sempre quer aceitar.
Pessoalmente discordo.
Não se trata de criar uma angústia com aquilo que o ser humano é ou deseja. Trata-se em última instância dar a chance de pensar se aquilo que está vivendo de fato corresponde ao seu ponto máximo de chegada.
Pensemos: uma criança que foi abandonada pelos pais e cresceu numa instituição. Naturalmente existe uma dor e uma revolta interior que precisa ser cuidada e precisa de atenção. Mas quem é que garante que esses sentimentos SÃO O SEU MELHOR? Não poderia ela aprender a lidar com o sentimento de rejeição e superar isso?
Recentemente soube de uma história verídica: um jovem que foi separado da mãe pelo pai que imediatamente casou-se com outra. Cresceu com todos os cuidados dados pelo pai e pela madrasta mas nunca conseguiu entender o porque a mãe o havia abandonado e nunca mais o teria procurado. Angustiado, viveu todos os conflitos e dores que uma pessoa vive no sentido de estar rejeitado e deixado de lado. Mas nunca se conformou internamente com os motivos que lhes eram dados.
Como nunca tivera nenhum contato com a mãe depois do abandono, não sabia nada se quer se ela ainda estava viva. Até que conseguiu encontrar uma pista e foi atrás e descobriu a mãe que antes era motivo de dor e sofrimento e agora lhe despertara um profundo sentimento de perdão por entender os motivos que levaram a mãe a partir e de observar que agora, poderia refazer seus laços com ela cuidando daquela que um dia lhe fora impedida de cuidar dele.
O que poderia ter acontecido com ele? Ficar o resto da vida vivendo um conflito interior de raiva e abandono e nunca ter tido coragem de ir além. Mas foi atrás e refez uma série de laços que perdera por causa da história cheia de conflitos em que estava inserido.
Jesus quando fala de amar os inimigos está justamente pedindo a avaliação de cada um sobre as situações que aparentemente parecem perdidas e sem sentido e a tentativa da descoberta daquilo que faz a vida valer a pena.
E convenhamos: quase sempre o nosso inimigo é gente que tem muita importância para nós, porque se não o fosse, nem daríamos bola para chama-lo de inimigo...
Ir além é um projeto de autoconhecimento e de realização. Reconstrução de possíveis laços rompidos e de alcançar o mais que humano em nós...
Essa proposta de Jesus merece de nós um pouco de mais atenção e vontade de fazer dar certo. Não acham?
Fiquem bem.
Quando jovem fui um tanto inflexível. Meu não era não mas aprendi com a vida que esse comportamento só me machucada. Com o passar do tempo fui aprendendo a ser maleável. Hoje lido bem melhor com as adversidades. Sinto fico muito entristecida ou irritada porém aos pouco vou restabelecendo a paz com a ajuda misericordiosa de Deus.
ResponderExcluirNem sempre é fácil..mas precisamos pelo menos tentar...
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