O ESSENCIAL

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As superstições sempre fizeram parte do cotidiano humano.

Numa leitura mais sociológica da religião, sabemos inclusive que o primeiro estágio para a sociedade humana manifestar sua crença era justamente o ciclo mitológico, onde além das estórias apareciam as lendas e as manifestações das entidades divinas exigindo cumprimento de determinadas práticas que acalmavam ou estimulavam a ação dos deuses.

Mas não pensemos que isso está fora do ciclo da religião formal.

Ainda existe muito desse tipo de prática dentro dos ritos cristãos e, ainda que haja desejo de se romper com isso e chegarmos a uma religião madura, os fatos históricos têm provado que há muito ainda para se caminhar.

Jesus constatou isso na prática. Não se podia tocar em gente morta. Não se podia comer sem lavar as mãos. Não se podia falar com mulher em local público. Não se podia curar no sábado. Não se podia ter contato com leprosos. Não se podia chamar a Deus. Não se podia...

Ele entendia o jeito de pensar das pessoas e respeitava tal modo. Mas não queria compactuar com aquilo tudo sob pena de não conseguir inaugurar uma nova visão sobre Deus e os rituais da nova aliança.

Por isso, ainda que tratasse de respeitar quem praticava tais rituais, não se submetia ao senso comum de achar que certas coisas aplacavam a ira de Deus. E isso foi, por um lado o que mais atraia as pessoas às suas pregações e por outro, um dos motivos pelos quais fora condenado.

Em Mc 7, 14- 23 nos deparamos com um texto que revela essa inequívoca maneira de pensar e sentir: diante da proibição de se comer determinados alimentos porque isso causaria uma contaminação do interior da pessoa, Jesus proclama uma verdade que deveria ecoar em nossos ouvidos: NÃO É O QUE ENTRA NA PESSOA QUE PODE CONTAMINÁ-LA MAS SIM, O QUE SAI DA SUA BOCA.

Parece uma coisa simples, mas creiam nem era para aqueles que ouviram naquela época (vide a reação dos discípulos que ficaram perplexos e solicitaram mais explicações) nem o é para nossos dias. Quanta gente ainda se aproxima da confissão (e digo desse sacramento pois é o espaço de maior intimidade entre as pessoas) e trazem inúmeras referências a esse tipo de encucamento.

Parece que as regras criadas em torno de ideias religiosas fazem sucesso com as pessoas e não só mistificam a crença, mas controla o modo de pensar e sentir das pessoas.

Já ouvimos coisas do tipo:

NÃO PODE MASTIGAR A HÓSTIA PORQUE ELA SANGRA.

SE A HÓSTIA COLAR NO CÉU DA BOCA É SINAL DE QUE A PESSOA NÃO ESTÁ PURA PARA A COMUNHÃO.

QUEM DORME SEM REZAR A ALMA SAI DO CORPO E PODE FICAR PERDIDA VAGANDO PARA SEMPRE (ALMA PENADA).

QUEM RI DENTRO DA IGREJA ESTÁ TIRANDO SARRO DE DEUS.

e por aí vai...

Vejam que não se trata de dizer que tudo é bom e normal. Mas se trata de estabelecer que determinadas ações servem apenas e tão somente para aplacar nosso juízo. Simples assim.

Para Deus interessa aquilo que estou cultivando dentro do coração.

E o modo como ofereço ao mundo aquilo que faz parte do meu "jardim interior".

Por isso que Marcos coloca uma lista de coisas que estão sendo tramadas no interior e, segundo Jesus, essas sim pode destruir nossas relações com os humanos, com o mundo e com Deus.

Parece que Jesus faz um esforço danado para simplificar nossa existência e relação com o que está em nosso entorno. Já nós, tratamos de complexificar e regulamentar tudo a partir de superstições e ideias que nada mais são do que um controle do nosso ser em Deus.

Como Ele não se cansa de dizer: QUEM TEM OUVIDOS QUE OUÇA...

Fiquem bem.

Comentários

  1. Bom dia! "Jardim interior" que lindo padre. ...nosso interior devia msm ser um jardim: podado-irrigado- florido....onde qdo tivéssemos o prazer de estar....mas, às vz ele está cheio de ervas daninhas como a superstição- angústias- maledicências- complexos- que deixam nosso jardim um simples canteiro mal cuidado .Deviamos pensar em sentimentos nobres pra ser mais fácil chegar perto de um mundo melhor.///grt por escrever tao lindamente

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  2. Concordo com vc M.Ruth....Pe vc ,escreveu lindamente, e de uma forma profunda,que diz a verdade, sobre muitos aspectos da imaginação das pessoas...e que até a fazem sofrer...
    Esse" jardim interior"..deve ser cultivado..com muito cuidado e carinho p conseguir, produzir bons frutos...e melhorar nossa relação com o próximo e com Deus!!!

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  3. É M Esther esse nosso tao amado P Luís é um poeta escondido....alma de artista, sensibilidade poética!!!!percebo isso em quase tds reflexoes!!!como nao gostar?????

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  4. Maravilhoso texto de grande aprofundamento. Que nosso coração seja puro p/ cultivar e fluir o que é bom.

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  5. Jesus nos ensina de modo muito claro :
    "Nada de fora faz
    mal pra dentro da
    gente... Se eu não
    der licença, nem
    Deus entra no
    meu íntimo.
    Então depende de
    mim cuidar e não
    deixar que a "tiririca "
    tome conta.

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