FUGIR PRA QUE?

Na vida diária e concreta não existe E SE. Afinal, as coisas são e acontecem e não permite que fiquemos achando que E SE fosse diferente seria melhor. 

No campo do pensamento o E SE é além de uma possibilidade bastante plausível para reflexão e entendimento dos acontecimentos e da própria realidade, como também é um recurso que abre portas e vãos para o imaginário, o que de certa forma, pode ocasionar uma interferência na realidade concreta sim.

Esse pensamento me rondou a cabeça essa noite por várias horas comendo inclusive minhas horas de sono (que depois me fazem uma falta...) e tratei de encontrar algumas brechas na realidade para pensar sobre o E SE.

Isso tudo porque ontem, ao visitar a cadeia fui impedido de entrar porque havia acontecido uma fuga nos dias anteriores e, alguns presos estavam sendo reconduzidos à prisão.

Pensemos primeiro o E SE absurdo...

O que faz um cachorro escapar de uma casa e correr adoidadamente pela rua?

Podemos pensar muitas hipóteses (ainda que nenhuma delas possa ser averiguada cientificamente). Mas sabemos que um cachorro que está preso, preso tem também os seus instintos e, na medida que aparece a possibilidade de fuga, esses instintos afloram. Pode ser maus tratos. Pode ser o cio. Pode ser fome. Pode ser a simples aventura de ser livre de novo.

Mas tanto o cachorro de rua quanto o poodle bem cuidado nas pet shops da vida parecem fugir apenas para ressaltar os seus instintos: querem demonstrar pra si mesmos e talvez para os demais, que ainda é capaz de seguir seus instintos e se sentir livre. (lembrem-se que estou no plano do E SE).

O que me parece bastante plausível também é que a fugidinha do bicho pode ser também uma manifestação de pura ousadia e nada mais. Ele espera ser buscado e ser encontrado, senão pelo mesmo dono ou então por outros que o quererão como seu.

Mas voltemos aos presos que estavam sendo recapturados...

Como fugiram? Durante um banho de sol que é feito num espaço sem muros, uma bobeada de um agente, é motivação para uma fuga desenfreada.

Fugiram pra onde? Pra mata, num primeiro momento. Mas a fome, o cansaço e o medo os fazem voltar para suas casas ou para zonas de malandragem que são conhecidas pela polícia e daí, são recapturados.

Então fugiram pra que?

Sabiam que seriam presos de novo e sabiam que ao voltar, seriam castigados e humilhados pelos policiais (que se sentiram desautorizados) e pelos companheiros de sela (que foram privados de alguns direitos), mas ainda assim fugiram...

No caso do cachorro não se consegue comprovar nada muito além de E SE. Mas no caso humano, sem dúvida nenhuma, fugir é uma forma de se declarar dono do próprio destino e, ainda que traga consequências desagradáveis e não se apresente nenhuma solução imediata (fugir aqui somente de barco), reafirma-se a força vital que uma sela e a privação da liberdade por ocasionar.

Talvez uma boa explicação seja dada por um dos presos que cruzei no corredor enquanto eram dados os encaminhamentos legais.

Depois de ser fotografado diante de um banner com a identificação da polícia, pediu para olhar a foto tirada pelo policial e disse: PELO MENOS VOU SAIR BONITO NO JORNAL REGIONAL...

Não sei se me faço entender, mas nada mais precioso do que a liberdade, ainda que se esteja preso...

Fiquem bem.

Comentários

  1. Concordo plenamente. A liberdade é o bem mais precioso...

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  2. Boa tarde,pe
    Muito interessante sua explanação, sobre esta liberdade imaginária!!!

    Fique bem tb.

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  3. É o sonho da liberdade que se apodera por alguns instantes e em suas horas aprisionadas...e ao surgimento de uma oportunidade no Impulso, no instinto e necessidades. Do qual a alma anseia por libertacão.

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